As leituras deste domingo, que acabamos de escutar nos falam das dificuldades que o profeta Ezequiel, o apóstolo Paulo e o próprio Jesus enfrentam no cumprimento de sua missão. Estas dificuldades valem também, hoje, para o cristão chamado a testemunhar sua fé em Jesus Cristo por uma vida coerente com o evangelho, no seu ambiente social. O profeta Ezequiel, um entre os muitos judeus deportados para a Babilônia, foi chamado e enviado para transmitir a mensagem de Deus ao povo israelita, um povo rebelde que não fazia caso de Deus.

São Paulo na carta aos Coríntios, que nos foi proclamada descreveu as dificuldades enfrentadas por amor de Cristo na sua missão: injúrias, necessidades, perseguições, angústias.

Jesus ao voltar de Nazaré, sua terra, como a denomina Marcos no seu evangelho, acompanhado de seus discípulos provocou uma dupla reação: de admiração e de escândalo. Nazaré, onde Jesus nasceu e viveu até os 30 anos, antes de iniciar sua vida pública, era apenas uma aldeia na região da Galiléia. Os seus ouvintes na sinagoga eram, certamente, antigos conhecidos, vizinhos e familiares. O que eles ouvem de Jesus e o vêem realizar não corresponde à imagem que eles tinham dele. Para eles, Jesus era o carpinteiro, o filho de Maria, o  parente das pessoas que moram  na aldeia de Nazaré.

Nós o conhecemos bem, pensavam eles, mas era um conhecimento superficial, meramente humano. Como conseguiu ele tanta sabedoria? De onde lhe veio esse poder de fazer milagres? Perguntavam eles. Jesus ficou admirado da falta de fé de seus conterrâneos, e parte para outros povoados das redondezas, ensinando e pregando a Boa Notícia do Reino.

Muito de nós, também, muitas vezes nos comportamos como os habitantes de Nazaré. Formamos uma idéia superficial de Deus, de Jesus, e até da Igreja e isso impede de acolher na fé Jesus como Ele se nos revela no Evangelho. Muitos admiram Jesus como um sábio, alguém que deixou belos ensinamentos, mas não reconhecem nele o Filho de Deus, o Salvador.

Nós batizados e confirmados temos o direito e o dever de participar da missão que Cristo confiou à sua Igreja: anunciar e testemunhar o evangelho na sociedade de hoje.  Deus e a Igreja contam com todos nós, apesar de nossas limitações, dos nossos pecados e dos  obstáculos que temos a nossa frente. 

 A exemplo  de Samuel que continua profetizando “quer o povo escuta, quer não”; a exemplo de Paulo, que apesar das injúrias, perseguições e angústias sofridas por amor a Cristo, não deixou de anunciar a Cristo; a exemplo de Jesus,  que  rejeitado pelos seus conterrâneos, em Nazaré, continuou anunciando o Reino de Deus a outros povoados, assim também nós, diante das dificuldades, do fracasso, não devemos desanimar.

O importante não são os frutos que iremos colher ou o prestígio e reconhecimento humanos que teremos pelo nosso trabalho.  O importante é a perseverança na fé que abraçamos desde o nosso batismo  e seguir trabalhando pela  construção do Reino de Deus, confiados na graça e na força que Deus nos dá.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP