Quaresma e Penitências Modernas
Quaresma é tempo de penitência, renovação restauração.
Proponho algumas penitências próprias para quem vive e sobrevive na cultura
moderna. São penitências libertadoras, saudáveis, humanizadoras, necessárias.
1.
Libertação da dependência dos
aparelhos eletrônicos.
A tecnologia virou ídolo. Somos reféns e
escravos do celular, da internet, da televisão, etc. Estes meios de comunicação
virtuais são magníficos e realizaram uma revolução sem igual. Todavia o mau uso destes meios nos escravizam.
2.
Cortesia no trânsito. A cortesia é sinônimo de respeito, atenção, reverência para com os
outros. Penitência no trânsito significa
desfazer-se de veículos desnecessários, usar os meios públicos de transporte,
observar as leis e caminhar mais.
Todavia a cortesia é uma possibilidade de humanizar, suavizar e solucionar
problemas crônicos nas cidades e estradas.
3.
Saber silenciar: o barulho, a agitação, a dissipação
nos obrigam a viver uma vida fragmentada, agressiva, doentia. Até o sono, a
afetividade, a sexualidade são significativamente prejudicadas. Saber parar,
saber meditar é um remédio, uma solução prática, uma atitude sábia em favor da
saúde, da paz, da boa convivência e da
alegria de viver. A quaresma equivale a
um retiro espiritual.
4.
Equilibrar trabalho e família. Trabalho é bom. Trabalhar demais
vira doença. É o que se chama de “síndrome da fadiga”, ou seja, esgotamento, apatia, desânimo,
frustração. Sei que esta penitência é muito exigente. Mas, o excesso de
trabalho não pode prejudicar a família. O lazer
é um dever. Demos primazia à família e não ao lucro e ao consumismo que
se transformam em doença e desequilíbrio pessoal e familiar.
5.
Mudar o hábito alimentar e fazer
exercícios. Convivemos com a fome, a obesidade e o desperdício.
Sem mudar hábitos alimentares e sem exercícios físicos, seremos candidatos ao hospital. A tentação do consumismo e da
gula, por outro lado, trouxe a “ditadura da magreza” que é outro problema
grave. Quão sábio é Jesus quando nos ensina a jejuar.
6.
Cuidar da mãe terra e da irmã água. O homem inteligente passou a ser demente pela destruição do Meio
Ambiente. A vida virou cálculo, lucro, dinheiro. Resultado disso tudo é que
somos uma geração emocionalmente desequilibrada e culturalmente depredadora.
Como escreve um grande teólogo: “o homem virou satã de si mesmo e da vida.”
Temos mil maneiras de salvar a mãe terra e a irmã água e todas as criaturas.
Façamos da terra nossa casa comum e o jardim desejado pelo Criador.
7.
A conversão pastoral. Eis uma penitência urgente e
necessária. Não podemos permanecer na mesmice e na acomodação pastoral. O Papa
Francisco nos convida à conversão pastoral através da Igreja em saída. São
muitas as saídas. Primeira: sair de si e ir ao povo, às periferias. Segunda:
sair de casa e visitar as famílias. Terceira: sair da sacristia e abraçar a
realidade sofrida do povo. Quarta: sair da diocese, da paróquia para outras
regiões como, por exemplo, a Amazônia. Quinta: sair para outros continentes, é
a missão além fronteiras. Sexta: sair da cultura pessoal
para a inculturação em outras realidades.
Sétima: sair da zona de conforto, para a doação de si, o martírio e a
própria morte.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Aparecida SP