Os pensamentos, as criatividades, as potencialidades, as descobertas, as soluções são fatos e acontecimentos iluminados pelo Espírito Santo, Senhor da vida, o Espírito divino conduz a grande história do mundo e da Igreja e, ao mesmo tempo, ilumina e aquece os corações.

É o Espírito que nos aproxima de Deus como filhos  e inflama nossa filiação e relacionamento com o Pai. “Deus nos abraça com seus dois braços: Jesus e o Espírito Santo” (Santo Irineu). O Espírito é o laço, o beijo, o abraço, o elo que unifica. Sem o Consolador, Jesus é apenas  um personagem histórico, a Igreja nada mais é  que uma empresa, os mandamentos são vistos como uma escravidão. Quem nos revela e encanta por Jesus, pelo evangelho e pela Igreja é o Espírito Santo. Ele é o autor principal  das Escrituras, é o dinamismo da missão, é a força do alto que levanta os caídos, colocando-os de pé.

Graças ao Espírito Santo  o povo de Deus permanece na fé, é forte na esperança e possui uma sabedoria que confunde os sábios e cientistas. O Espírito, nosso advogado, rompe nossas cadeias internas e externas, confere-nos forças extraordinárias para vencer o mal  e nos livra do negativismo, dos traumas, dos medos, das decepções. Ele nos faz livres e libertadores, nos recria, refaz, transformando-nos em novas criaturas.

É o Espírito que nos dá o gosto pela oração, a fascinação pela Palavra, a coragem profética, a audácia  missionária, a inspiração dos valores e a consolação nas tribulações da vida. É o mestre interior que abre as mentes, os corações, o íntimo de cada pessoa.

Há muitos Pentecostes, além daquele  do Cenáculo em Jerusalém. Os Atos dos Apóstolos atestam a descida do Espírito Santo na casa de Cornélio, é o Pentecostes dos pagãos. Ele desce nas prisões, nas casas, nas comunidades. Em nossos tempos, o Concílio Vaticano II, as  Conferências de Medellin, Puebla, Santo Domingo e Aparecida são verdadeiros Pentecostes que abriram as portas da Igreja e dos corações e impulsionaram a missão. O Sínodo da Palavra, do Oriente Médio, da África, o Ano da Fé, o Sínodo da Nova Evangelização, o Encontro Mundial das Famílias, em Milão,  a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro, o Sínodo das Famílias, são Pentecostes dos nossos dias. É o Espirito que desce e tudo renova, recria, recupera e refaz.

Pentecostes é o coroamento de toda  a obra salvífica de Jesus, isto é, sua encarnação, morte e ressurreição. Por outro lado, o Espírito Santo  garante a continuidade histórica da salvação e conduz à plenitude. O que importa é não extinguir a espírito, mas fazer frutificar os seus dons. O dom da sabedoria nos impulsiona a saborear as coisas de Deus e dar gosto a tudo o que realizamos. Com o dom da Inteligência saímos da rotina da mediocridade e nos aprofundamos na doutrina, no ensino, na teologia. Como é urgente, necessário e benfazejo o dom do conselho, da palavra certa, do discernimento, da orientação. Pelo dom  da fortaleza não fugiremos daquilo que é difícil, exigente, cansativo.  Haveremos de perseverar na provação e na cruz. 

O dom da ciência nos ajuda a usar bem as coisas. Não podemos idolatrar as criaturas, nem ser seus escravos  como é o caso da dependência do álcool, droga, sexo, paixões, apegos. Com o dom da piedade abrimos o coração para Deus como Pai, reverenciamos nos pais humanos e criamos um vínculo filial com a pátria onde nascemos. O dom da piedade nos inspira a ser filhos de Deus, filhos obedientes aos nossos pais e cidadãos convictos.

Enfim, o dom do temor de Deus consiste no respeito a Deus e às coisas sagradas. Veneração, obediência e respeito para com a Igreja e tudo o que diz respeito à religião, à fé, à comunidade eclesial é fruto do dom do temor de Deus, isto é, amor respeitoso, obediencial, filial. Feliz Pentecostes.

                                                                                                                                                                                                                                                                  Dom Orlando Brandes

                                                                                                                                                                                                                                                                 Arcebispo de Aparecida