O evangelho de hoje narra a transfiguração de Jesus no alto de uma montanha, diante dos três apóstolos: Pedro, Tiago e João que o acompanhavam. É uma antecipação da Páscoa, da glorificação de Jesus, a manifestação de sua divindade. Jesus aparece na sua glória, tal como, ele será na sua ressurreição.  A transfiguração tem como objetivo fortalecer a fé dos apóstolos diante da proximidade da paixão de Jesus. A experiência da transfiguração de Jesus pelos três apóstolos levou-os a reconhecer que Jesus é o Filho de Deus, que ele não é apenas um homem exemplar que se deve imitar, mas que  ele é o Caminho, a Verdade e a Vida que devemos escutar e seguir na nossa caminhada diária rumo a Casa do Pai. “Este é o meu  Filho amando, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o”.

A primeira leitura narra a vocação de Abraão. Deus escolhe Abraão, o primeiro patriarca, para o pai de povo de Israel, para ser fonte de bênção para todos os povos: “em ti serão abençoadas todas as famílias da terra”. Abraão deixou sua terra, sua família, seus bens e parte para uma terra desconhecida que o Senhor Deus lhe prometeu dar. Pela confiança incondicional de Abraão na promessa de Deus, ele se tornou um modelo de fé e é chamado de “nosso pai na fé”. A aliança de Deus com Abraão é sinal da aliança nova e eterna  que Deus selará conosco por meio de seu Filho Jesus, que derramará seu sangue por nós. “Este é o sangue da nova e eterna aliança que será derramado por vós e por todos, para a remissão dos pecados.”

Estamos na quaresma, tempo de preparação para a Páscoa. A melhor  maneira de nos prepararmos para a celebração do mistério pascal de Cristo, é escutar a Jesus através da leitura orante da Palavra de Deus na bíblia sagrada, sobretudo, na leitura do Evangelho.

Conhecer a palavra de Deus, assimilá-la e interiorizá-la em nosso coração para conhecer a vontade do Pai é a melhor maneira de nos prepararmos para a celebração da Páscoa. Procuremos fazer  como os apóstolos,  na transfiguração, uma experiência de encontro com Cristo, nesta quaresma, ao meditar a Palavra de Deus e vivê-la, e ao aproximarmo-nos do sacramento da reconciliação e da eucaristia, para nos tornarmos também luz,  missionários de Jesus  Cristo, para aqueles com quem convivemos diariamente.

A CF deste ano – Fraternidade e Tráfico Humano – e o lema: “É para a liberdade que Cristo nos libertou”  nos convida a tomar consciência do crescimento do crime do tráfico de pessoas, vítimas da exploração sexual e do tráfico de órgãos de seres humanos. Essas situações são um afronta aos fundamentais valores comuns a todas as culturas e povos, valores radicados na natureza íntima da pessoa humana. Nesta quaresma a CF convida a fazer um exame de consciência e ver como nos colocamos diante  desse crime e o que podemos fazer para erradicar esse mal, com vistas ao resgate da vida e dignidade dos filhos de Deus.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida