SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA

(Saudações aos concelebrantes, aos presentes, romeiros e romeiras, arquidiocesanos,  telespectadores, rádio-ouvintes e internautas.)

Queridos irmãos e irmãs.

Estamos celebrando a Solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora .

A primeira leitura do livro do Gênesis nos colocou diante do pecado de nossos primeiros pais, pecado, aliás, partilhado por todos nós. Seduzido e enganado pela voz da serpente, o homem desobedeceu a Deus e foi privado da graça divina e a  comunhão com o Criador, com a natureza e o seu semelhante foi rompida.

A história  da queda  dos nossos primeiros pais narrada no início do primeiro livro do Antigo Testamento continua até hoje. É uma realidade que todos nós experimentamos. Basta olhar para nós mesmos, ao nosso redor e para o mundo para constatarmos os efeitos destruidores do pecado pessoal e social, que é consequência do pecado original: a morte de milhares de inocentes não-nascidos; a violência incontrolável sob as mais variadas formas, ceifando vidas, sobretudo de jovens, em nosso país; a corrupção que parece ter atingido grande parte das instituições do país;  a imoralidade; a desestruturação da família.

A segunda leitura da carta de Paulo aos Efésios e o evangelho da Anunciação trazem, porém, uma boa notícia para toda a humanidade.

São Paulo escreve em sua carta que Deus nos amou, desde toda a eternidade. “Em Cristo, ele nos escolheu, antes da fundação do mundo, para que sejamos santos e irrepreensíveis sob seu olhar, no amor” (Ef 1,4).

Queridos Irmãos e Irmãs,

existimos, portanto, porque Deus pensou em nós, nos amou e nos chamou à existência para sermos felizes. Depois, por decisão livre do homem, apareceu o pecado, que perturbou nossa relação com Deus, com a natureza, com o próximo e com o mundo.

Conforme o evangelho de Lucas, Deus enviou o anjo Gabriel à Virgem de Nazaré, para convidá-la a participar, de uma maneira singular, deste plano em favor da humanidade. O anjo lhe diz: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra”. Por isso,  o menino que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus.”

Totalmente disponível à vontade de Deus, Maria diz um sim livre e cheio de amor. “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra” .

Em vista desta missão, Deus preparou a jovem de Nazaré, desde o primeiro momento de sua existência, preservando-a do pecado original em previsão dos méritos de Cristo e cumulando-a de toda graça.

Hoje, estamos celebrando, de modo particular, com alegria e gratidão este dom de Deus a Maria, que é também dom à Igreja e à humanidade inteira. Este privilégio da Imaculada Conceição de Maria que Deus lhe concedeu  é uma verdade de fé para nós católicos. O Papa Pio IX, hoje elevado às honras dos altares, no uso de sua autoridade infalível proclamou, no dia 8 de junho de 1854:  que Maria no primeiro instante de sua concepção, por singular graça e privilégio de Deus, em previsão dos méritos de Jesus Cristo, foi repleta do amor de Deus, de tal maneira, que não houve nela possibilidade alguma do pecado original.”

Assim como foi pedido a Maria para acreditar que Aquele que ela concebia “por obra do Espírito Santo” era o “Filho do Altíssimo”, em continuidade com a fé da Virgem de Nazaré,  também nos é  pedido para crer naquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria que se torna presente nos sinais do pão e no vinho com todo o seu ser humano-divino.

A  exemplo de Maria, que, logo após a Anunciação, levou em seu ventre o Verbo encarnado, fonte de graça para sua prima Isabel e o filho João Batista, nos sintamos também nós, fortalecidos pela Eucaristia, impelidos a testemunhar e irradiar, sem medo,  o evangelho na sociedade de hoje.

Hoje é um dia especial para esse Santuário: na solenidade da Imaculada Conceição, foram abençoados, há pouco, os  treze novos sinos que irão aqui ressoar e integrar o campanário que será construído no próximo ano, um dos últimos projetos do arquiteto Oscar Niemeyer.

Não podemos esquecer que hoje, o Papa Francisco abriu a Porta Santa, na Basílica de São Pedro, em Roma, dando início ao Ano Extraordinário da Misericórdia, que se estenderá até o dia 20/11/2016. Há 50 anos, também, no dia 08 de dezembro de 1965, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria, o Papa Paulo VI celebrava a missa de conclusão do Concílio Vaticano II. A Igreja quer manter vivo o ensinamento do Concílio e o Jubileu Extraordinário da Misericórdia confirma que o Vaticano II permanece como a bússola para a Igreja neste novo milênio. O Papa João XXIII afirmava em 1962, no início do Concílio, que a Igreja prefere usar a medicina da misericórdia no lugar de brandir as armas do rigorismo, da condenação. Este é o tema do Jubileu: Jesus é o rosto visível e misericordioso do Pai e o lema: “Sede misericordiosos como o Pai.”

Que este Natal e o Ano Jubilar de 2016 sejam um tempo para experimentar e  viver, na existência de cada dia, a misericórdia de Deus e levar a todas as pessoas a bondade e a ternura de Deus, nosso Pai.

Louvado seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida-SP