As leituras que acabamos de escutar nos falam da vida futura junto de Deus, onde nossas justas aspirações de felicidade, de imortalidade, de vida em plenitude se transformarão em realidade. “Ao despertar, me saciará vossa presença, e verei a vossa face!” Cantamos no refrão do salmo responsorial e na primeira leitura, escutamos o que disse o quarto irmão,  no meio aos sofrimentos, antes de morrer: “prefiro ser morto pelos homens, tendo em vista a esperança dada por Deus, que um dia  nos ressuscitará.” Nós sabemos que, aqui, na terra, nossas mais justas aspirações não poderão ser realizadas.

O Deus  de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó foi se revelando, progressivamente, como afirmou Jesus no evangelho de hoje, que “não é um Deus dos mortos, mas dos vivos, pois vivem para ele.”

No evangelho, os Saduceus que não acreditavam na ressurreição dos mortos, inventam um caso de uma mulher que teve sete maridos para armar uma cilada para Jesus. Na ressurreição, na outra vida,   perguntaram  eles a Jesus, a mulher será esposa de quem? Jesus não responde diretamente a pergunta dos saduceus que estão imaginando a vida futura, depois da morte, como se fosse uma reprodução  exata de sua existência terrena. Na outra vida, a ordem biológica atual, procriação e morte, será  superada: “os que partiram para a eternidade não morrem mais e por isso não se casam. Eles serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque  ressuscitaram.” Serão  herdeiros da ressurreição que Cristo, o primeiro homem, conheceu  e  que não é uma volta a vida anterior, mas sua superação. A esperança na ressurreição é a consolação que nós cristãos recebemos de Jesus Cristo e de Deus nosso Pai que nos amou e nos ama infinitamente e não  deixará os seus filhos e amigos permanecerem na morte. “Sim, esta é a vontade de meu Pai: quem vê o Filho e nele crê tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,40), disse Jesus, no discurso na sinagoga de Cafarnaum, após o milagre da multiplicação dos pães.

Na sua homilia da Vigília Pascal, de 2006, o Papa Bento XVI disse que “a ressurreição de Cristo não é a reanimação de um morto; é  uma realidade diferente.  A ressurreição -  é se podemos utilizar a linguagem da teoria da evolução – a maior mudança, o salto  mais decisivo numa dimensão totalmente nova que jamais sucedeu na longa história da vida e de seus desenvolvimentos: um salto de ordem completamente nova, que diz  respeito a nós e a toda a história. É claro que este acontecimento da ressurreição de Cristo não é qualquer milagre do passado, cuja existência poderia  ser para nós indiferente. Trata-se de um salto qualitativo na história da evolução e da vida em geral rumo a sua vida futura nova, rumo a um mundo novo, que partindo de Cristo, penetra já agora continuamente no nosso mundo, o transforma e o atrai para ele.”

Façamos nossa, nesta eucaristia, a oração de São Paulo que escutamos na 2ª leitura:  “Que Jesus Cristo e Deus nosso Pai que nos amou tanto e nos proporcionou uma consolação permanente e uma feliz esperança nos dê força para toda boa ação e palavra.”

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP