Irmãos e irmãs, após uma novena celebrada com muito fervor, com  a participação de uma multidão de devotos da padroeira, não só aqui no Santuário, mas também, em numerosos lares de todo o Brasil, através dos meios de comunicação ou nas próprias comunidades, celebramos hoje a solenidade de Nossa Senhora Aparecida, proclamada Padroeira do Brasil pelo Papa Pio XI, no dia 16 de julho de 1930. Ao fervente pedido do episcopado brasileiro, Pio XI declarou a Santíssima Virgem Maria concebida sem mancha, sob o título de Aparecida, Padroeira principal de todo o Brasil diante de Deus.

A devoção a Nossa Senhora Aparecida, uma das principais expressões da piedade do povo brasileiro, teve início em 1717, quando três pescadores Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedroso foram incumbidos de conseguir  uma   certa quantidade de peixes no rio Paraíba, por ocasião da passagem, por Guaratinguetá, do Conde de Assumar, em viagem para a tomada da posse como Governador de São Paulo e das Minas de ouro.

Esses três humildes pescadores estavam labutando já havia algum tempo numa pescaria, sem êxito. No entanto, não desanimaram. Foram surpreendidos,  após ter encontrado, em dois lances de rede, o corpo e a cabeça de uma imagem da Imaculada Conceição, com uma pesca abundante. Os pescadores viram naquela imagem, apanhada nas redes, um sinal de que não estavam sozinhos, nem desamparados. Nossa Senhora estava com eles e atenta às suas necessidades.

A pequena imagem de terracota e de cor negra foi levada para a casa de um deles e aí, então, passou a ser venerada  com o título de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, porque foi achada (aparecida) nas águas do Rio Paraíba.

Aos poucos, as pessoas foram se reunindo ao redor daquela imagem para rezar e agradecer e, cada dia que passava, mais aumentava  o número de fiéis devotos, tornando, então, necessário dar inicio a construção, em 1846, de uma igreja maior, inaugurada em 1888 e que hoje é conhecida como a Basílica Velha.

O número de romeiros continuava a aumentar, exigindo um templo ainda maior. Em 1954 iniciou-se, então, a construção deste Santuário que está em fase de acabamento, preparando-se para celebrar, em 2017, os trezentos anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira e Rainha do Brasil.

Em Aparecida, “Deus ofereceu ao Brasil a sua própria Mãe” (Papa Francisco) e Ela  quis manifestar-se nessa região do Vale do Paraíba de maneira simples, sem fato espetacular, sem mensagem especial; solidária, porém, com aqueles pobres pescadores e na sua cor negra, identificada com os escravos da época e os excluídos de hoje. Ela quis escolher essa terra para derramar as bênçãos de Deus sobre o Brasil e o povo devoto que aqui vem para venerar a milagrosa imagem e para proclamar seus louvores e graças.

O Papa Francisco, referindo-se ao encontro da imagem da Virgem da Conceição, pelos três pescadores, no rio Paraíba, chamou-nos a atenção para três posturas que devemos cultivar na nossa vida: 

1) conservar a esperança: “quantas dificuldades na vida de cada um, no nosso povo, nas nossas comunidades, mas, por maiores que possam, parecer, Deus nunca deixa que sejamos submergidos. Frente ao desânimo que poderia aparecer na vida, em quem trabalha na evangelização ou em quem se esforça por viver a fé como pai e mãe de família, quero dizer com força:  Tenham sempre no coração esta certeza! Deus caminha a seu lado, nunca lhes deixa desamparados! Nunca percamos a esperança! Nunca deixemos que ela se apague nos nossos corações!”

2) segunda postura: Deixar-se surpreender por Deus.  A história deste Santuário serve para de exemplo: três pescadores, depois de um dia sem conseguir apanhar peixes, nas águas do rio Paraíba, encontram algo inesperado: uma imagem de Nossa Senhora da Conceição. “Quem poderia imaginar que o lugar de uma pesca infrutífera tornar-se-ia o lugar onde todos os brasileiros podem se sentir filhos de uma mesma Mãe? Deus sempre surpreende, como o vinho novo, no Evangelho que ouvimos. Deus sempre nos reserva o melhor. Mas pede que nos deixemos surpreender pelo seu amor, que acolhamos as suas surpresas. Confiemos em Deus! Longe d’Ele, o vinho da alegria, o vinho da esperança se esgota. Se  nos aproximamos d’Ele, se permanecemos com Ele, aquilo que parece água fria, aquilo que é dificuldade, aquilo que é pecado se transforma em vinho novo de amizade com Ele.”

3) terceira postura: Viver na alegria. “Temos uma Mãe que sempre intercede pela vida dos seus filhos, por nós, como a rainha Ester na primeira leitura (cf Es 5,3). Jesus  nos mostrou que a face de Deus é a de um Pai que nos ama.” Como dizia Bento XVI, “o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não há esperança, não há amor, não há futuro”

Maria é a Mãe, mas também a primeira e mais fiel discípula de seu Filho Jesus. Como missionária e discípula ela nos mostra e nos conduz a Jesus, nossa luz,  e nos pede, como aos serventes nas bodas de Cana: “Façam tudo o que Ele vos disser”.

Ester, no Antigo Testamento,  é figura de Maria, nossa intercessora. Desde o século II, os santos Padres já chamavam Maria de advogada nossa, intercessora nossa, junto ao  seu Filho Jesus Cristo. Ester, como Maria, nos ensinam que devemos estar atentos às necessidades e sofrimentos dos nossos irmãos e colaborar na construção de um Brasil  sem dominação,  democrático, fraterno, solidário, com dignidade para todos. Que a Mãe Aparecida nos guie, nos encoraje e nos ajude nessa missão.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP