Abertura da Porta Santa e Início do Jubileu Extraordinário da Misericórdia

O Papa Francisco abriu a Porta Santa na Basílica de São Pedro, em Roma, no dia 8 deste mês, Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e data que assinalou o 50º aniversário da conclusão do Concílio Vaticano II.

No dia de hoje, 3º Domingo do Advento, tradicionalmente conhecido como Domingo da Alegria, ocorre a abertura da Porta Santa em todas as catedrais do mundo.

Em comunhão com a Igreja Universal, também nós realizamos hoje, em nossa Arquidiocese, nas cidades de Aparecida e Guaratinguetá, a abertura da Porta Santa, em dois momentos de grande solenidade: pela manhã, no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida e, à noite, na Igreja de Santo Antônio. Esses acontecimentos marcam o início da celebração do Ano Extraordinário da Misericórdia em nossa Arquidiocese. Esse Tempo da Graça, nós o viveremos até o dia 20 de novembro de 2016, Solenidade de Cristo Rei do Universo.

A misericórdia, como sabemos, é o tema e o coração deste Jubileu.  Seu lema - “Sede misericordiosos como o Pai” - foi extraído do versículo 36 do capítulo VI do Evangelho de Lucas:

Caríssimos irmãos e irmãs: a abertura do Jubileu se dá no tempo em que nos preparamos para celebrar, no Natal, o mistério do nascimento de Jesus. Seu nascimento, morte e ressurreição nos atestam que o amor misericordioso de Deus não conhece limites. Jesus é o rosto misericordioso de Deus Pai, que veio até nós para nos redimir de nossos pecados e nos fazer seus filhos e filhas muito amados. Destacando a grandeza do amor de Deus por nós, que toma a iniciativa de, por primeiro, nos amar, São João escreveu: “Nisto consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi Ele quem nos amou e nos enviou seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados” (1 Jo 4,10).

Com a proclamação do Jubileu, o Papa Francisco teve em mente, de modo especial, indicar-nos duas propostas que, como cristãos, devemos  viver integralmente: colocar o Deus misericordioso que Jesus nos revelou - por meio de suas palavras, gestos, ações e toda sua vida - no centro de nossa vida cristã; e reconhecer que o Deus que Ele nos revelou é Pai e nós somos seus filhos muito amados. Essa é, aliás, uma das constatações feitas por São João em sua Primeira Carta: “Vede que manifestação de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus. E nós o somos.” (1 Jo 3,1). Lembra-nos também o Papa que este Jubileu Extraordinário deve nos levar, ainda, a celebrar a misericórdia de Deus para conosco e a experimentar a misericórdia que se manifesta na salvação que nos é dada por puro amor e bondade de nosso Deus.

Irmãos e irmãs: abrimos hoje na Arquidiocese de Aparecida uma Porta Santa no Santuário Nacional e outra na Igreja de Santo Antônio. O que se pretende com esse gesto? Antes de tudo, favorecer que o Ano Santo seja vivido por todos como um momento extraordinário de graça e de renovação espiritual.
 
A Porta Santa favorece a graça da obtenção da indulgência. Ao percorrer o caminho que o leva até a Porta Santa, no Santuário Nacional ou na Igreja de Santo Antônio, ou em igrejas de outras Dioceses estabelecidas pelo Bispo Diocesano, ou, ainda, nas quatro basílicas papais, em Roma, o peregrino poderá alcançar a indulgência jubilar, sinal da misericórdia de Deus, mediante a aproximação do Sacramento da Reconciliação, a participação na celebração da Eucaristia, a recitação da profissão de fé (o Credo) e uma oração pelo Papa Francisco e pelas intenções que ele traz no coração, pelo bem da Igreja e do mundo. No caso de pessoas idosas e enfermas que não puderem ir até a Porta Santa, poderão elas, também, viver o Jubileu, recebendo a comunhão ou participando da Santa Missa e da oração através dos meios de comunicação e oferecendo o seu sofrimento como experiência de união com o Senhor. Os presidiários, por sua vez, poderão obter a indulgência jubilar ao participar, nos presídios, da celebração da Missa, confessando-se, recitando o Credo e rezando pelo Papa e pelas intenções que ele tem no coração.

Com o propósito de tornar mais acessíveis outros meios para a obtenção da graça, o Papa Francisco decidiu, também, conceder a todos os sacerdotes, neste Ano Jubilar, a faculdade de absolver do pecado de aborto as pessoas que se arrependem e procuram o perdão. E, a fim de não excluir ninguém da misericórdia de Deus, e para que, ao contrário, nela se agreguem todos aqueles que querem se aproximar do amor de Deus, o Papa Francisco “enviará a toda a Igreja (...) os missionários da misericórdia, isto é, sacerdotes com a autoridade de perdoar mesmo os pecados reservados à Sé Apostólica, como um sinal da solicitude materna da Igreja pelo povo de Deus”  (MV 18).

O Papa pede também que se promovam missões populares nas dioceses. Em nossa Arquidiocese, essas missões serão realizadas pelos missionários redentoristas, em cada uma das paróquias, no primeiro semestre do ano de 2017, como parte das celebrações do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida e como fruto da celebração do Ano Extraordinário da Misericórdia.

Por oportuno, recordo a todos que a Arquidiocese de Aparecida elaborou, em âmbito arquidiocesano e paroquial, um Calendário de Atividades a serem realizadas durante todo o Ano Jubilar, com o objetivo de favorecer a todos os fiéis uma participação frutuosa neste peculiar tempo de graça que a Igreja nos oferece para acolhermos a misericórdia de Deus e para, também, nos ajudar a nos tornarmos apóstolos da misericórdia, testemunhando o perdão, a solidariedade e o amor para com os outros. Essa é, caríssimos irmãos e irmãs, a nossa singela contribuição ao Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Com essas iniciativas desejamos nos associar ao Santo Padre e ao seu desejo de que,  com gestos concretos, tornemos o Ano Santo um sinal visível da ternura e da misericórdia de Deus para com todos.

O Papa Francisco, com o Jubileu nos propõe, de modo particular e bastante enfático, a prática das obras da misericórdia corporais e espirituais. Nas palavras do Santo Padre, essa é uma forma de “entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina” (MV 15). Somos, pois, desafiados a escutar o grito de ajuda das pessoas que sofrem e a sair ao encontro dos que vivem nas mais contraditórias periferias existenciais: os pobres, os enfermos, os presos, os dependentes químicos; o povo de rua; os refugiados; os migrantes; as vítimas da violência, de perseguição, de desastres ambientais e de tantas outras tragédias humanas e naturais.

O Papa Francisco nos diz: “Deus nunca se cansa de perdoar. Somos nós que nos cansamos de lhe pedir perdão”.  A Porta Santa – retornemos a esse tema de maneira bastante enfática - tem um forte valor simbólico. Ela é um convite a todos os peregrinos para que, através dela, entrem no templo de Deus, que é a Igreja, para obter o perdão e a misericórdia do Pai. Jesus, como afirma São João, é a porta das ovelhas: “Eu sou a porta, se alguém entrar por mim será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem” (Jo 10,9). Assim, queridos irmãos e irmãs, somente por meio de Jesus, podemos chegar ao Pai. Ele é o caminho a ser percorrido por todos aqueles que querem chegar ao Pai. “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 4-6).

Em nossas vidas, muitos caminhos se abrem à nossa frente. A nós cabe a decisão da escolha de qual deles percorrer. Se queremos chegar ao Pai, temos de fazer a opção acertada pela estrada a seguir. Mas como saber se estamos na direção da porta que nos introduzirá na Casa do Pai? Para sabermos se somos, de fato, filhos de Deus, há um critério: a Misericórdia. É ela que nos permite verificar se somos verdadeiros filhos de Deus. Somos todos, assim, chamados a viver a misericórdia, porque, em primeiro lugar, Deus usou de misericórdia para conosco. É por isso que, apontando-nos o caminho da salvação, Jesus nos diz: “Sede misericordiosos como o Pai” (Lc 6,36).

Caríssimos irmãos e irmãs: o Ano Extraordinário da Misericórdia é um momento peculiar na vida da Igreja. A finalidade do Jubileu é, sobretudo, fortalecer a nossa fé no Cristo ressuscitado e revigorar o nosso testemunho cristão no mundo de hoje. “A vida é uma peregrinação, diz o Papa Francisco, e o ser humano, um peregrino que percorre uma estrada até a meta desejada. Também para chegar à Porta Santa, cada pessoa deverá fazer, segundo as próprias forças, uma peregrinação. Este sinal de que a própria misericórdia é uma meta a alcançar exige empenho e sacrifício. Por isso, a peregrinação há de servir de estímulo à conversão: ao atravessar a Porta Santa, deixar-nos-emos abraçar pela misericórdia de Deus e  comprometer-nos-emos a ser misericordiosos com os outros como o Pai é conosco” (MV 14), não só durante este Ano Jubilar, mas também ao longo de toda nossa vida.

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP