Depois das parábolas sobre o Reino de Deus, Mateus, no evangelho de hoje, nos apresenta Jesus saciando a fome das multidões que o seguiam, e curando os enfermos  que estavam entre eles.

O profeta Isaías, na primeira leitura, se dirige ao povo de Israel que está prestes a regressar do exílio, na Babilônia, e o exorta a não se contentar só com os bens materiais. “Porque gastar dinheiro com o que não alimenta e  o salário com o que não pode satisfazer plenamente”?  O profeta convida o povo a saborear também o que alimenta o espírito, isto é, a palavra do Senhor. “Prestai atenção e vinde a mim; ouvi e tereis vida”.

No salmo responsorial, 144, nós rezamos o refrão, cantando: “Vós abris as vossas mãos e saciais os vossos filhos”.

São Paulo, na carta aos Romanos, no trecho que escutamos, hoje, nos afirma que nem a fome, nem outras tribulações ou qualquer poder podem nos separar  “do amor de Deus  por nós que nos foi manifestado em Cristo Jesus, nosso Senhor.”

Os gestos de Jesus e a sua oração na multiplicação dos pães e dos peixes para alimentar aquela multidão de cinco mil homens, sem contar mulheres e crianças, é prefiguração da instituição da Eucaristia: “pegou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos para o céu e pronunciou a bênção. Partiu os pães e os deu  aos discípulos.  Os discípulos os distribuiu às multidões”.

Na Eucaristia, Jesus se faz alimento para nós, “o pão da vida”, penhor de vida eterna. A Eucaristia é o dom, por excelência, que Cristo deixou à sua Igreja, porque é o dom de sua pessoa na sua santa humanidade e da obra de sua salvação.

No evangelho de hoje, Jesus diz aos discípulos: “dai-lhes vós mesmos de comer.” Estas palavras são dirigidas também a nós  que somos seus  discípulos. Hoje, há tanta gente que passa fome, há também pessoas fartas de bens materiais, mas sedentas de valores para alimentar o seu espírito. Gente que vive  na solidão, necessitada de companhia, de amor. Gente vítima da violência que tem sede de justiça, de solidariedade! Não se pode separar a participação da Eucaristia da caridade para com o próximo.

A Eucaristia é o sacramento do amor que é Jesus Cristo que se doa a nós. E o amor é recebido para ser doado. Uma Eucaristia que não se traduz em amor aos irmãos, sobretudo, aos mais necessitados é fragmentária, quer dizer, incompleta, afirma o Papa Bento XVI. A bem-aventurada Madre Tereza de Calcutá compreendeu bem essa relação entre ser amado na Eucaristia e amar os outros. Na  cidade de Calcutá, na sala do hospital onde suas Irmãs cuidam dos doentes terminais, ela escreveu na parede: “O Corpo de Cristo”.

Nossos recursos, também muitas vezes, como os dos discípulos do evangelho, são poucos para atender a fome material e espiritual de tanta gente, mas podemos dar um pouco do  que temos ou fazemos para aliviar o  sofrimento de nossos irmãos e lutar para que todos tenham  condições dignas de vida, como convém aos filhos de Deus.

A Eucaristia manifesta a inesgotável bondade de Deus para conosco ao nos oferecer o próprio Cristo como alimento. Agradeçamos e louvemos a Deus nesta eucaristia por tão inefável dom e peçamos-lhe que nos dê a graça de compreender que devemos agir como se  tudo se dependesse de nós,  mas, ao mesmo tempo, com a confiança em Deus como se tudo dependesse Dele, em última instância.

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida/SP