A liturgia deste domingo nos convida ao renovado encontro com Jesus Cristo, ressuscitado e presente ao nosso lado, acompanhando-nos pelos caminhos da vida e do mundo. É ele que com a sua Palavra aquece os corações feridos e desiludidos. É ele que, na fração do Pão eucarístico, reúne sua Igreja e a renova para o testemunho e para a missão.

No belo texto dos discípulos de Emaús essa mensagem aparece com toda clareza. Temos nele todo um itinerário de fé.  O ponto de partida é, como dissemos, a desilusão e a falta de esperança dos discípulos. Eles não são capazes de compreender os acontecimentos. A história lhes parece sem sentido. Diante disso, a pedagogia de Jesus se revela em sua plenitude. Ele se aproxima colocando-se ao nível em que seus discípulos se encontram, como um forasteiro que nada sabe e que pergunta com simplicidade sobre os fatos. E, a partir daqui, em etapas sucessivas põe remédio nas feridas, cura e transforma a situação dos seus amigos. E o remédio é precisamente a Palavra que ele explica e atualiza. Ao final do caminho compartilhado, ainda sem ser reconhecido totalmente, é convidado a permanecer na casa dos amigos de viagem. E lá, na intimidade familiar, se dá a última etapa do itinerário de fé: celebra-se a fração do Pão, Ele se dá a conhecer plenamente e desaparece de suas vistas. Nesse momento, o ardor causado por sua presença e sua Palavra, se transforma em missão: os discípulos voltam a Jerusalém, de onde saíram desiludidos, agora, porém, entusiasmados e prontos a comunicar sua experiência. Esse itinerário precisa continuamente ser assimilado por nós, e transformado em nosso caminho de fé, o do sofrimento e da morte como caminho de ressurreição e de vida.

A primeira leitura reproduz o primeiro anúncio público da salvação trazida por Cristo e oferecida para toda a humanidade. Trata-se da primeira pregação do Evangelho, feita por S. Pedro na manhã mesma de Pentecostes. A segunda leitura nos convida a contemplar com os olhos da fé o projeto salvífico de Deus, o seu amor por todos nós, que se expressou na Cruz de Jesus e em sua ressurreição. É essa contemplação do amor de Deus, e somente ela, que pode nos levar a acolher o seu apelo de conversão e seu dom de uma vida nova.

Hoje a Igreja no Brasil, com a presença dos Bispos, reunidos na 52ª Assembleia Geral, agradece nesta Eucaristia, a canonização de São José de  Anchieta. A vida e a missão desse Apóstolo do Brasil,  atualizam para nós a mensagem da Palavra de Deus. Primeiramente, seu dinamismo missionário. Jovem ainda, deixou sua terra e veio trazer o anúncio do Evangelho a nossas terras. Este é o maior desafio para a Igreja, neste momento da história. O Papa Francisco, insistentemente, tem convidado a Igreja viver em “saída missionária”, expressão usada por ele mesmo.

O exemplo e o testemunho do padre Anchieta são inspiração aos evangelizadores de hoje, desafiados a falar à mente e ao coração das pessoas de modo a levá-las ao encontro pessoal com Jesus Cristo. Sua criatividade no anúncio do evangelho aos indígenas, recorrendo ao teatro e à poesia, interpela-nos quanto aos métodos que usamos nos tempos atuais na nossa missão evangelizadora. Revela-nos a urgência de uma evangelização inculturada num país marcado pela pluralidade cultural e étnica.

Por fim, capaz de atrair as pessoas com o bom odor da santidade, com a força da oração e com a ternura de seu carinho.

Agradecendo ao Papa Francisco a canonização de S. José de Anchieta, com esta celebração eucarística, pedimos a intercessão do Apóstolo do Brasil para que a Igreja, nesta Terra de Santa Cruz, continue cumprindo, corajosa e fiel, sua missão evangelizadora.

Nossa Senhora, de quem S. José de Anchieta era grande devoto, venerada neste Santuário Nacional como Mãe Aparecida, nos acompanhe,  benevolente, com a luz de seu olhar e a ternura de seu amor.

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP
Presidente da CNBB