Com o Domingo de Ramos começa a Semana Santa, chamada também “a Grande Semana”, porque nesta semana se celebra o coração do mistério da nossa salvação. É a semana decisiva para a humanidade, o centro da história e, de certa maneira, seu fim, porque nela chega ao seu termo, a longa procura humana, marcada pelo sofrimento e pela morte, mas aspirando a uma vida feliz e sem limites.

Esta salvação se realiza pela Páscoa de Cristo, que passa pelo sofrimento e a morte para chegar à vida nova da ressurreição. Neste homem Jesus, que é o Filho de Deus, é toda a humanidade

que chega à Páscoa eterna. Ele é o primeiro, que ressuscitou, como afirma São Paulo, de uma multidão de irmãos e irmãs. Mas antes, devemos percorrer o caminho da vida cristã, alimentando-nos com o pão da vida, que é o Cristo e praticando a caridade, até chegarmos à Páscoa definitiva.

Começamos a Semana Santa revivendo com a procissão solene de ramos, a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, a cidade santa. Ele entra em Jerusalém montado em um jumento, sinal de humildade e de simplicidade. Escutamos há pouco a narração comovente da paixão de Jesus segundo o evangelho de Mateus: a traição de Judas, o abandono dos amigos, o julgamento mais injusto e arbitrário da história, as torturas e a morte cruel de Jesus, o Messias.

Depois de escutar a aclamação entusiasmada da multidão: Hosana ao Filho de David! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana no mais alto dos céus! Agora, na narração da paixão, escutamos uma multidão frustrada que esperava que Jesus de Nazaré libertasse de Israel da dominação romana, gritar: “seja crucificado!”.

Jesus escolheu o caminho da cruz, do servo sofredor para cumprir a sua missão de serviço à humanidade e realizar o desígnio de Deus. Do alto da cruz, antes de morrer, ele faz a sua entrega definitiva: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito. Tudo está consumado.”

Caros irmãos, nós que nos colocamos no seguimento de Jesus, devemos acompanhá-lo não somente quando ele é aplaudido pela multidão, mas também e, sobretudo, quando ele é torturado e crucificado. “Quem não tomar sua cruz para seguir-me, não é digno de mim” (Mt 10,38). A nossa vida cotidiana é marcada por dificuldades, provações, mas ao ver que Jesus, o Filho de Deus, também participou de nossas dores, isso nos conforta, nos consola, nos fortalece, e podemos, com sua ajuda, superar nosso sofrimentos com a certeza, de que unidos a Ele, chegaremos à glória, à fonte e plenitude da vida, que é Deus.

Caros irmãos e irmãs, o Cristo crucificado nos diz que o caminho dos seus discípulos passa também pela cruz, pela renúncia, pelo serviço, pela doação ao outro. “Quem quiser ser meu discípulo, renuncie a si mesmo, toma sua cruz e siga-me. Eu não vim para ser servido e sim para servir e dar a vida em resgate de muitos.”

Hoje, em todas as paróquias e comunidades, realiza-se a coleta da CF, para o fundo de solidariedade, que tem como objetivo apoiar projetos de promoção humana, e em especial, projetos relacionados ao tema da CF que neste ano, é “Fraternidade e Tráfico Humano”. O Concílio Vaticano, na constituição pastoral, Gaudium et Spes, já afirmava que a “escravidão, a prostituição, o tráfico humano, as condições degradantes de trabalho, são infames e degradam a civilização humana, desonram mais os seus autores que as suas vitimas e são totalmente contrárias a honra devida a Deus Criador” (GS 27).

Que a celebração dos santos mistérios da paixão, morte e ressurreição de Cristo, nesta Semana Santa, torne mais consciente, fervorosa, proveitosa e generosa em boas obras, nossa participação na Eucaristia, principalmente aos domingos.

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo Metropolitano de Aparecida