Nesta Celebração Eucarística, queremos recordar, com nossos queridos irmãos armênios que vivem no Brasil, e representados pelos seus concidadãos presentes, hoje, no Santuário Nacional, o centenário do genocídio armênio. Este trágico acontecimento, considerado o primeiro genocídio do século XX, nos anos de 1915 e 1923, perpretado pelo império otomano, resultou na morte de cerca de um milhão  e meio de vítimas, entre bispos, sacerdotes, religiosos, mulheres, homens, idosos, crianças e doentes indefesos.

A Armênia, que  está localizada, entre os mares Cáspio e Negro, foi o primeiro país a adotar o cristianismo como religião de Estado em 301 d.C. Tornou-se independente da União Soviética em 1991 e é hoje uma República independente, e há uma grande identificação do seu povo com a fé cristã. No Brasil há muitos descendentes de armênios que chegaram aqui,  fugindo das perseguições de que foram vítimas e muitos deles ocupam lugar de destaque no âmbito do comércio, da política, da cultura, contribuindo com o desenvolvimento do nosso País.

Em vários países, celebra-se, no dia 24 de abril de cada ano, a memória das vítimas do genocídio armênio. Queremos nesta Celebração Eucarística, ato conclusivo das celebrações do centenário dos mártires armênios do genocídio, não só recordá-los, mas, sobretudo, rezar por suas almas e pedir a Deus, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, e do Beato Dom Inácio Maloyn, por àqueles (as) que ainda hoje são,  por causa de sua fé em Cristo ou da sua pertença étnica,  assassinados, decapitados, crucificados, queimados vivos, ou então, forçados a abandonar sua terra.

O trecho do Evangelho que escutamos,  narra que a multidão,  depois de ter tido a fome saciada, procura Jesus, pois Ele tinha se retirado daquele lugar onde se realizou a multiplicação dos pães e se dirigiu para a cidade de Cafarnaum.

A multidão viu o milagre e ficou satisfeita e procura Jesus para ver outros milagres. Deseja uma vida fácil, de bem-estar material. E por isso, procura a Jesus. “Estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos”.

A multidão não compreendeu o milagre realizado por Jesus. O povo só viu o sinal externo realizado por Jesus, mas não descobriu que se tratava de um sinal e não percebeu que o milagre realizado por Jesus tinha um significado mais profundo e só poderia  realizar tal prodígio aquele que foi enviado pelo Pai, o Filho de Deus.

Vivemos numa cultura de consumo. A felicidade se pretende alcançar através do bem-estar econômico e da satisfação hedonista; enfim, na busca do prazer imediato.  Nada, porém, do que é material pode nos satisfazer plenamente. Por isso, o nosso coração está inquieto, vazio,  em busca de respostas para o sentido profundo da vida e para nossos anseios de vida e felicidade eternas e em plenitude.  Só Jesus pode nos dar a vida verdadeira e eterna. “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá  mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”.

Na eucaristia, Jesus não nos oferece apenas pão; é Ele próprio que se nos dá em alimento no  sinal do pão consagrado.  Comer desse pão, é encontrar pessoalmente o Cristo, é aderir a Ele, é entrar plenamente no mistério da vida de Cristo. “Quem come a minha carne e bebe meu sangue permanece em mim, e eu Nele” (Jo 6,56).

“A Eucaristia é o lugar privilegiado do encontro do discípulo, do cristão com Jesus Cristo” (DA 251).  Ele  é  o enviado do Pai a este mundo para a nossa salvação e somente Ele é capaz de saciar plenamente a nossa fome e sede de vida verdadeira, pois Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP