Encerramos, hoje, o mês de maio com a festa da Mãe de Deus, a visitação de Maria a Isabel. No texto do evangelho, Lucas narra a visita a sua prima Isabel. Os padres da Igreja e a liturgia aplicam este texto do profeta Sofonias, da primeira leitura à Virgem Maria, pois ela  é a sede da perfeita presença de Deus em meio dos homens. De ninguém como de Maria se pode dizer com tanta verdade aquilo que o profeta escreveu, referindo-se ao povo de Israel: “Alegra-te e exulta de todo o coração, cidade de Jerusalém! O Senhor,  teu Deus, está no meio de ti”. (Sofonias 3,14-17)

Maria leva em seu seio o Filho de Deus e com sua alegria de mãe, atravessa a Palestina apressadamente, desde a Galileia até a Judeia, para partilhar  a alegria com outra mãe, Isabel, que espera também um filho, apesar de sua velhice. Após ter escolhida para  a ser a mãe do Altíssimo, Maria não se fecha em si mesma, mas numa atitude de serviço e humildade, se apressa em assistir sua prima Isabel quando soube que ela estava prestes a dar à luz. Maria permanece com sua prima até o momento do parto.

Quando ouviu a saudação de Maria, Isabel exclamou: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.” De um lado, Maria é bendita porque foi constituída por Deus, em sua dignidade suprema de Mãe do Verbo de Deus. Por outro lado, a bênção atribuída “ao fruto do seu ventre” é o reconhecimento da grandeza suprema do Filho de Maria em virtude de sua divindade e de sua obra salvífica.

“Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido o que o Senhor lhe prometeu.” Maria é a mulher de fé por excelência; é aquela que nos oferece um exemplo perfeito de fé, porque confiou e se entregou inteiramente ao projeto de Deus; é aquela que acolheu com alegria o grande dom divino, o Verbo de Deus em seu seio.

Maria na oração do Magnificat reconhece que o poder, a bondade, a misericórdia do Santo  de Israel é que estão na origem da encarnação do Verbo de Deus. Por isso, ela pode rezar “o Todo Poderoso fez grandes coisa em meu favor.” Maria não atribui a sua maternidade divina aos seus méritos, pelo contrário, ela refere toda a sua grandeza ao dom d’Aquele que sendo por essência  poderoso e grande, costuma fazer fortes e grandes os fracos e pequenos.

Certamente, o Magnificat não foi a única oração que Maria rezou. Em Caná, dá-se conta da dificuldade dos noivos e com confiança insistente de mãe “Eles não têm mais vinho”, “Fazei o que Ele vos disser” (Jo 2,3,5), obtém do seu Filho que “antecipe sua hora” e realize seu primeiro milagre. Nos Atos dos Apóstolos, Maria aparece reunida com os apóstolos no cenáculo, para esperar o Espírito Santo, participando da oração comunitária da Igreja nascente. Todos eles (os apóstolos) com algumas mulheres,  a mãe de Jesus e seus parentes persistiam unânimes na oração” (At 1,14). Maria é  imagem e modelo da Igreja orante.

Aprendamos de e com Maria, a conciliar nossa vida de oração, de união com Deus,  com o nosso trabalho e com o serviço aos nossos irmãos e irmãs mais necessitados, pois é na medida em que estivermos unidos a Cristo é que produziremos frutos de caridade, de reconciliação e justiça para a vida do mundo.

Dom Raymundo Card. Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP