Exmo. Sr. Dom Octávio Ruiz, Secretário do Pontifício Conselho para a Evangelização
Exmos. Srs. Bispos
Revmos. Presbíteros,
Revdos. membros Vida Consagrada,
Queridos Irmãos e Irmãs,

É uma grata satisfação receber os participantes do VII Congresso Internacional do Sistema Integral de Nova Evangelização (Sine).

A nova evangelização vem ocupando de modo crescente a atenção eclesial. Desde a 3a Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos, em 1974, que resultou na exortação Evangelii Nuntiandi, do Papa Paulo VI, até a 13a Assembleia, realizada ano passado, cujo tema foi “A Nova Evangelização para a transmissão  da fé cristã”. No Brasil, o tema tem recebido atenção privilegiada por parte de nossa Conferência Episcopal.

É motivo de esperança para a ação eclesial o crescimento e o fortalecimento de organizações que se dediquem prioritariamente a esta temática. Os congressos realizados pelo SINE podem colaborar muito nesse caminho. Este 7o Congresso dá provas disso. Entre seus objetivos está o aprofundamento da consciência da importância da Nova Evangelização para assumir um processo integral que permita a todos recomeçar de Cristo e contribuir para que as Dioceses e Paróquias envolvam-se cada vez mais na conversão pastoral que foi proposta pela Conferência de Aparecida e tem sido urgida pelo  Santo Padre, o Papa Francisco.

A liturgia de hoje propõe à nossa reflexão alguns aspectos fundamentais da evangelização. O primeiro se encontra na primeira leitura. Trata-se do testemunho do amor fraterno. Como afirma S. Paulo, “a caridade é o pleno cumprimento” das Escrituras. Em uma das homilias sobre os Evangelho, comentando a respeito do envio dos setenta e dois discípulos, dois a dois, por Nosso Senhor, S. Gregório Magno explica que “é necessário que os discípulos sejam mensageiros da caridade de Cristo. Se são menos de dois, a caridade não é possível, porque ela não se exerce a favor de si mesma, ela é amor pelos outros” (Hom. 17,1). A força irradiadora do amor fraterno é um dos aspectos da vida cristã que mais atraia e evangelizava as pessoas desde os tempos antigos. De fato, Tertuliano nos relata a profunda admiração que a vida fraterna dos cristãos causava sobre os pagãos: “vede como eles se amam uns aos outros [...], vede como estão prontos a dar a vida uns pelos outros” (Apologética, cap. 38). O Papa Emérito, Bento XVI, afirmou, no  motu proprio Porta fidei que “a renovação da Igreja realiza-se também através do testemunho prestado pela vida dos crentes” (n. 6), evidenciando assim sua atualidade em vista da evangelização.

Outros dois aspectos se encontram no Evangelho que acabamos de ouvir. Trata-se do sentido da renúncia e da cruz na vida dos discípulos evangelizadores, que o Evangelho apresenta sem meias medidas, chegando a tocar nos afetos familiares. Não é possível ser cristão sem uma clara opção pessoal por Jesus Cristo e por seu Evangelho. Nosso Senhor pede nada menos do que o lugar central no coração e na vida de seu discípulo. Um processo de evangelização autêntico e integral tem por objetivo chegar precisamente a este ponto: à opção consciente e decidida por Jesus Cristo, seu Evangelho, sua Igreja. A este respeito, o Papa Paulo VI afirmou, na exortação apostólica sobre a evangelização no mundo contemporâneo: “A finalidade da evangelização é precisamente esta mudança interior; e se fosse necessário traduzir isso em breves termos, o mais exato seria dizer que a Igreja evangeliza quando […]procura converter ao mesmo tempo a consciência pessoal e coletiva das pessoas, a atividade em que elas se aplicam, e a vida e o meio concreto que lhes são próprios” (EN, 18).

Há mais um aspecto, ainda, presente também no Evangelho, e que eu gostaria de ter presente. É a importante questão do planejamento pastoral e da pastoral de conjunto. Falando do construtor que quer edificar uma torre ou do rei que se encontra na iminência de uma guerra, Nosso Senhor fala da necessidade de calcular, de pensar bem a respeito do que se está a fazer. São Paulo, na primeira Carta aos Coríntios, neste mesmo sentido, afirma: “eu corro, não às tontas. Eu luto, não como quem golpeia o ar” (9,26). A Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos que ocorreu em outubro de 2012 apresentou ao Santo Padre uma proposta em que se recorda a necessidade de que a ação evangelizadora seja assumida como um todo pela Igreja particular e que nessa ação se integre “a variedade dos carismas, dos ministérios, dos estados de vida e dos recursos”. E os Padres Sinodais continuam evidenciando a necessidade de que “todas essas realidades devem coordenar-se dentro de um projeto missionário orgânico, capaz de comunicar a plenitude da vida cristã a todos, especialmente para os distantes da atenção da Igreja” (Proposta 42).

Concluo, meus caríssimos irmãos e irmãs, agradecendo a Deus pelas iniciativas que Ele suscita hoje na Igreja em favor da nova evangelização. E peço à Virgem da Conceição Aparecida, em cujo Santuário tenho a alegria de acolher os participantes do VII Congresso do Sistema Integrado de Nova Evangelização e os romeiros em peregrinação,  que acompanhe a todos no empenho evangelizador.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP