Estamos próximos do fim do ano cristão, do calendário litúrgico que se encerra no próximo domingo com a festa de Cristo Rei do Universo.

Ao concluir o ano litúrgico os textos bíblicos tem um tom escatológico, isto é, nos falam do futuro definitivo da história humana, evocam o fim dos tempos.

Desde o início da humanidade, o homem se preocupa em adivinhar, predizer como será o amanhã, o futuro. Hoje em dia fala-se mais do começo do mundo, que teria iniciado com uma grande explosão, conhecida como o “big bang” que os cientistas situam há 10 bilhões de ano.

A palavra de Deus nos alerta para o fato de que o nosso fim último, nós o preparamos desde agora, realizando com fidelidade nossos deveres cotidianos, e a Eucaristia, celebração do acontecimento central da nossa redenção, nos é dada como alimento que nos revigora em nosso caminho e, desde já, nos garante a vida eterna, a vida definitiva, em plenitude, junto de Deus.

O texto do profeta Malaquias, que viveu no século V, a.C. depois do exílio da Babilônia, no tempo da reconstrução do judaísmo, convida-nos a olhar para frente, para o “dia do Senhor”, expressão para designar no Antigo Testamento o fim dos tempos, dia  em que Deus restabelecerá a justiça, punindo os que praticaram o mal e premiando os justos, os que realizaram o bem.

No evangelho de Lucas, Jesus convida-nos também a olhar para o futuro com realismo e seriedade.

No evangelho de hoje é preciso distinguir três momentos diferentes aos quais se refere o evangelista: a destruição histórica da cidade de Jerusalém e do Templo pelos romanos, no ano 70; o início do tempo da missão da Igreja que é o tempo presente e último e que será marcado por dificuldades, perseguições, e a vinda do Filho do Homem como plenitude do Reino de Deus.

Com uma linguagem cheia de imagens, própria da época, o evangelho nos comunica uma mensagem fundamental: “o juízo final acontecerá quando o Cristo glorioso voltar. Só o Pai conhece o dia e a hora em que terá lugar; só Ele decidirá a sua chegada. Então, ele pronunciará por meio de seu Filho Jesus Cristo, sua palavra definitiva sobre toda a história. Conheceremos o sentido  último de toda a obra da criação e de toda a história da salvação. Compreenderemos os caminhos admiráveis pelos quais sua Providência terá conduzido todas as coisas ao seu fim último. O juízo final manifestará que a justiça de Deus triunfa sobre todas as injustiças cometidas por suas criaturas e que o seu amor é mais forte que a morte”. (CIC 1040).

Enquanto peregrinamos nesta terra, cabe-nos trabalhar como afirma São Paulo na 2ª. Leitura,  na construção do Reino de Deus, reino de justiça, de verdade, de amor  e de paz, fazendo deste mundo um sinal do reino definitivo. Somos chamados a renovar, à luz do evangelho, a vida familiar, os costumes sociais, as relações econômicas, as leis trabalhistas, os ambientes culturais. Lembremo-nos das palavras de São João da Cruz, no entardecer da vida, seremos examinados no amor ao nosso irmão, sobretudo, aos mais necessitados.

Vivemos preocupados com a deterioração crescente das condições de vida do nosso planeta terra e muitos são tentados a prognosticar o fim de toda vida sobre nosso planeta num futuro que não estaria tão distante como se pode pensar. O fim da vida sobre a terra é o fim do nosso mundo. Nós cristãos devemos olhar o futuro com esperança sem fugir de nossas responsabilidades na construção deste mundo, segundo o projeto de Deus, um mundo onde todos podem e devem viver com dignidade.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida - SP