Com a celebração de Domingo de Ramos, a Liturgia da Igreja inicia a Semana Santa, santa por causa da grandeza e da santidade dos mistérios que vamos celebrar nestes dias.

A liturgia deste domingo é uma síntese do que vamos celebrar nesta semana. Na primeira parte da celebração, recordamos a entrada de Jesus em Jerusalém, para realizar seu mistério pascal. A aclamação do povo é  a antecipação da alegria pascal, do triunfo do Cristo que, ao morrer, derrota a morte, o pecado, o príncipe das trevas, e nos faz participantes de sua vitória.

Os ramos abençoados no início desta celebração, nós iremos levá-los para casa e os conservaremos com muito respeito. Eles são para nós um sacramental, isto é, um sinal da proteção de Deus e ocasião para renovar nossa fé em Jesus Cristo com o propósito de testemunhá-lo no ambiente de família, no trabalho e na vida social, com as nossas ações coerentes com a fé celebrada, proclamada e vivenciada e que implica na defesa da vida, da justiça, da dignidade da pessoa humana, particularmente, das pessoas mais necessitadas e de contribuir com a construção de uma sociedade mais segura e com paz, que é fruto da justiça.

As leituras que acabamos de escutar e, principalmente, a narração de Marcos, a narrativa mais antiga da Paixão de Jesus, nos introduzem no mistério do sofrimento e da morte de Jesus, que vamos celebrar na Sexta-Feira Santa.

O Rei que  entra em Jerusalém, montado não em um cavalo, como faziam os imperadores, mas  num jumentinho, é um  rei humilde  e servidor, solidário com a humanidade sofredora e que na Sexta-Feira Santa,  iremos contemplá-lo pregado na cruz.

“Na Paixão, a misericórdia de Cristo, o seu amor na sua forma mais radical, vence o pecado. Na Paixão é onde o  pecado manifesta melhor sua violência e as suas mais variadas facetas: a incredulidade,  a rejeição e o escárnio, por parte dos chefes e do povo; a fraqueza de Pilatos; a crueldade dos soldados; a traição de um de seus discípulos,  Judas Iscariote; a negação de Pedro, chefe dos apóstolos,  e o abandono dos demais discípulos. Na hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de Cristo converte-se, todavia, secretamente, na fonte da qual brotará de maneira inesgotável o perdão de nossos pecados” (CIC 1851; 1992).

Para uma sociedade individualista, materialista, hedonista, e confiada apenas no progresso material e em busca de  prestígio e poder, a Paixão e a Cruz de Cristo são escândalo e loucura como o foram, outrora, para os judeus e para os gregos. Por isso, a mesma multidão que aclama Jesus como rei de Israel em Jerusalém, poucos dias depois, em vez de aclamá-lo, grita para Pilatos: Crucifica-o! Na realidade, a maioria ficara decepcionada com o modo escolhido por Jesus para se apresentar como Messias e Rei de Israel. Jesus escolheu a cruz como seu  trono.  E a nós que somos chamados a seguir Jesus, ele não nos garante uma felicidade terrena fácil, mas a felicidade do céu. Devemos  também perguntar-nos: para nós, quem é Jesus de Nazaré? O que nos trouxe até aqui hoje para celebrar o Domingo de Ramos e iniciar a Semana Santa?

Para nós cristãos, a cruz, antes, instrumento de morte, agora é fonte de vida, salvação, ressurreição; o começo de um novo mundo.

Jesus mudou a história. Aqueles que estavam confusos e o haviam abandonado e se dispersado, no momento de sua paixão e morte,  voltaram, recobraram a esperança, reagruparam-se em torno do Cristo ressuscitado e iluminados pela fé e fortalecidos  pelo Espírito Santo, levaram a Boa Nova do Evangelho, a todo o mundo, fundando as primeiras comunidades cristãs, das quais nós, hoje, Igreja de Jesus Cristo, una, santa, católica e apostólica, somos os continuadores e chamados, igualmente, a ser fermento de uma nova sociedade.

A atual crise moral e político-social  tem provocado grande mal estar e indignação na maioria do povo brasileiro, que se expressaram nas recentes manifestações contra a corrupção. Não basta só protestar; é preciso também ser propositivo. A crise atual pode e deve ser uma oportunidade para dialogar e buscar consenso entre as lideranças do País para superá-la. É necessário fortalecer as instituições e aperfeiçoar a democracia em nosso país e recuperar valores que devem sustentá-la, como: o diálogo, a justiça, a verdade, a paz, a dignidade da pessoa humana e seus direitos, a política como serviço ao bem comum de todos os cidadãos. O bem do povo brasileiro deve estar acima de qualquer outro interesse.  Os leigos católicos não devem ter medo de assumir sua responsabilidade na vida pública (DA 74). 

A contribuição da Igreja no respeito a laicidade do Estado e sem esquecer a autonomia das realidades terrenas, como afirma o Papa Francisco, em sua mensagem para a CF deste ano, encontra forma concreta na sua doutrina social com a qual quer assumir evangelicamente e a partir da perspectiva do reino, as tarefas prioritárias que contribuem para dignificação do ser humano e a trabalhar junto com os demais cidadãos e instituições para o bem de todos.

Ao contemplarmos, nesta Semana Santa, Jesus na sua paixão, morte e ressurreição, renovemos nossa fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus e nosso Salvador. Agradeçamos o seu amor por nós. Arrependamo-nos de nossos pecados e peçamos o perdão de Deus no sacramento da penitência e aproximemo-nos da Eucaristia onde Jesus vem ao nosso encontro e assim, podermos também experimentar  a alegria e a esperança de um futuro melhor, fruto da fé na ressurreição do  Cristo. Que sua força transformadora fortaleça em todos nós, sentimentos de fraternidade e viva cooperação. 

Hoje é dia da Coleta da Campanha da Fraternidade. A Igreja pede a nossa oferta para o Fundo de Solidariedade que, neste ano, destinará os recursos arrecadados ao financiamento e apoio de projetos que visam uma melhor formação política de nossos leigos (as) à luz do evangelho e da DSI, para que possam assumir sua responsabilidade na vida pública de nosso país. Não deixe de manifestar sua solidariedade com o gesto concreto de sua oferta.

A todos uma fervorosa e frutuosa celebração do mistério pascal de Cristo.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo Metropolitano de Aparecida