SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA

Romaria do Pe. Victor Coelho de Almeida – “Discípulo Missionário de Jesus Cristo

Na Quarta-Feira passada iniciamos no calendário litúrgico  da Igreja o tempo da quaresma, tempo de preparação para a celebração da  Páscoa de Cristo e da nossa páscoa. No  Brasil, no mesmo dia, foi feito o lançamento da Campanha da Fraternidade, com o tema: “Casa Comum – Nossa Responsabilidade”, e o lema: “Quero ver o direito brotar como fonte e correr a justiça qual riacho que não seca.” (Am 5,24).

Cada ano, no primeiro domingo da quaresma,  a liturgia da palavra nos apresenta Jesus no deserto, tentado pelo demônio, durante quarenta dias. Neste domingo, o texto que acabamos de escutar é do evangelista Lucas.

Jesus durante a sua vida terrena viveu uma dupla experiência: enquanto homem foi provado e experimentou a tentação, mas enquanto Deus é conduzido pelo Espírito e permaneceu firme na sua obediência filial a Deus-Pai e resistiu a toda tentação do demônio.

Pode-se dizer que as três tentações de Jesus, no deserto, se reduzem a uma só: a tentação de abandonar o caminho  da cruz e da obediência ao Pai  para nos salvar,  em troca de um caminho de glória, de poder, auto-suficiência humana, apresentado por Satanás.  Por três vezes de maneira diferente, o demônio procurou romper os laços de Jesus com seu Pai, lançando-lhe o desafio:  “Se tu és o Filho de Deus”. Recorrendo sempre à Sagrada Escritura, Jesus desfez todas as armadilhas do Tentador.

Lucas termina o texto do evangelho de hoje, dizendo: “o diabo afastou-se de Jesus para retornar no tempo oportuno”. O que Lucas quer nos dizer é que o maligno, mesmo depois de derrotado por Jesus, no início de sua vida pública, não desistiu de tentar desviá-lo do seu caminho. No momento da paixão, que Lucas chama de “a hora do poder das trevas”, o maligno tentará pela última vez desviar Jesus do caminho da cruz, da paixão e morte. No calvário, Jesus escutará  de novo, por três vezes, o convite a abandonar a vontade do Pai e a escolher o seu próprio caminho: “Se és o Messias, o predileto de Deus, salva-te a ti mesmo. Desce da cruz”. Sua fé, porém, e sua intimidade com o Pai o levam  a permanecer fiel até o fim e com a sua ressurreição e exaltação à direita do Pai, derrotou definitivamente a Satanás.

Ao escutar o evangelho de hoje, certamente, sentimo-nos identificados com as três tentações enfrentadas por Jesus, que se resumem numa só: a buscar a própria independência, sem consideração a nenhuma pessoa, nem ao passado, nem àqueles que nos rodeiam.

O evangelho nos adverte para não cairmos na tentação de colocar nossa segurança, nossa liberdade nos bens materiais como o mais importante em nossa vida ou a colocar o dinheiro, o poder, a fama, o prazer como valores últimos  no lugar de Deus, que é o único e supremo  bem a quem devemos adorar e servir. “Não podeis servir a Deus e ao Dinheiro”.

Pela quarta vez, a Campanha da Fraternidade é realizada de forma ecumênica e neste ano quer despertar em cada um de nós a consciência de que todos  somos responsáveis pelo planeta Terra, nossa casa comum. O cuidado com a criação e a luta pela justiça são dimensões básicas para a manutenção da vida. O objetivo principal desta CFE é colaborar com a reflexão a partir de um problema específico que afeta o meio ambiente e a vida de todos os seres vivos que é a ausência ou a precariedade dos serviços de saneamento básico no nosso país. Esse direito humano fundamental requer a  união de esforços entre sociedade civil e poder público.

A  quaresma é tempo oportuno para lutarmos contra tudo aquilo que nos afasta  de Deus e da fraternidade com  nossos irmãos. É tempo de meditar a Palavra de Deus e praticá-la para resistirmos às tentações do demônio. É tempo de experimentar no sacramento da Penitência e da Eucaristia, especialmente, neste Ano Extraordinário da Misericórdia, o amor, o perdão de Deus. É tempo  de moderar nossa ambição de possuir, nosso egoísmo, nosso consumismo, fonte de desrespeito à dignidade de nosso irmão.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de  Aparecida