1 Cor 3,9c-11.16-17; Jo 2,13-22

A  Basílica de Latrão, em Roma, é chamada “a mãe e a cabeça de todas as igrejas”. Sua festa tem precedência sobre o domingo porque esta basílica é dedicada ao Salvador que é Nosso Senhor Jesus  Cristo e o domingo é também a celebração do Cristo ressuscitado. Desde o Começo, a Igreja para celebrar a eucaristia com a comunidade, construiu igrejas que são edifícios destinados a acolher a comunidade celebrativa.

Em Roma, depois da paz concedida aos cristãos em 313, as comunidades cristãs mais importantes se reuniam em basílicas que eram antes edifícios civis, e serviam de tribunais para um número importante de pessoas.

Alguns edifícios foram entregues ao culto cristão ou seu modelo arquitetônico serviu de inspiração para a construção de Igrejas. Esta basílica traz também o nome de São João Batista – Basílica de São João de Latrão – porque há um belo batistério construído separado da basílica, mas ligado a  ela. Nos primeiros séculos, o complexo das construções das residências episcopais  compreendia a Igreja, mas também, um edifício distinto, o batistério.

A razão é o vínculo profundo que existe entre o batismo e a em cada diocese, a Igreja Catedral é o símbolo da unidade da Igreja local. Ela se chama assim porque é lugar onde se encontra a cadeira do Bispo – em latim: cathedra – daí o nome Catedral. Ela constitui o local a partir do qual o Bispo exerce, por excelência, seu ministério de ensinar a fé católica, apascentar e santificar o povo a si confiado mediante a pregação do Evangelho e a celebração dos Sacramentos.

Como o Bispo de Roma, que é o Papa, tem um ministério que vai além da Diocese de Roma – pois ele, como cabeça do Colégio universal dos Bispos, exerce o seu pastoreio em favor da Igreja no mundo todo – a dedicação da Catedral de Roma é celebrada no mundo todo, como um sinal desse ministério.

Desse modo, hoje, queremos nos unir ao Papa e à Diocese de Roma, e celebrar festivamente a Dedicação da Basílica de Latrão, como um sinal de nossa comunhão com o Papa e com a Igreja universal. A Palavra proclamada nesta liturgia sagrada nos recorda que somos nós o “edifício de Deus”, o templo vivo de Deus. E o somos porque estamos unidos a Cristo, o verdadeiro templo, destruído pelos homens, mas reedificado por Deus ao terceiro dia, como nos recorda o santo Evangelho.

O templo é o lugar onde Deus é adorado em espírito e verdade, e onde o verdadeiro culto lhe é prestado (Jo 4,23). Cristo é o verdadeiro templo porque com sua própria vida, com seu corpo, ofereceu o verdadeiro e eterno sacrifício, que nos purifica de nossas faltas e nos une a Deus em sincera caridade. O mistério pascal de Cristo – sua Paixão, Ressurreição e Ascensão – é esse sacrifício espiritual, por meio do qual Ele oferece ao Pai o culto mais perfeito, do qual todos os ritos do Antigo Testamento eram preparação e prefiguração. Como tal glorificação de Deus foi realizada na existência humana de sua Pessoa, Ele pode com justiça afirmar ser o verdadeiro templo de Deus.

Pela graça do santo Batismo, nós fomos associados a sua morte e sua ressurreição, como nos afirma São Paulo (cf. Rm 6,3-4). Nele nós estamos alicerçados. Por isso somos também templos de Deus, e somos convidados a oferecer em nossa existência, em nossos corpos, na bela expressão de são Paulo na carta aos Romanos: “eu vos exorto, irmãos, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é vosso verdadeiro culto” (Rm 12,1).

Portanto, ao comemorarmos hoje a dedicação da Basílica do Latrão, símbolo do ministério universal do Santo Padre enquanto Bispo  de Roma, recordamos nossa feliz condição: de sermos, em Cristo, templos vivos para o louvor da glória de Deus, para nossa santificação e para a salvação do mundo inteiro.

Ao celebrarmos hoje a santa Eucaristia, na festa da Igreja Catedral de Roma, estejamos ainda mais unidos ao Papa e a toda a Igreja, comprometidos na tarefa comum de anunciar ao mundo o Evangelho e a manter-nos  decididamente unidos a Cristo, como pedras vivas do templo santo que com Ele formamos.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP