Com a festa do Batismo do Senhor termina o período litúrgico do Natal e, a partir de amanhã, começa o tempo litúrgico chamado “tempo comum” até a quaresma.

O batismo de Jesus é a primeira manifestação pública da sua identidade messiânica, depois da adoração dos Magos. Por isso, a liturgia aproxima a festa do Batismo da festa da Epifânia, dando um salto cronológico de cerca de trinta anos (João Paulo II).

O menino nascido em Belém é aquele que antes de iniciar a sua vida pública se deixa batizar por João Batista, no rio Jordão e é proclamado o “Filho amado de Deus no qual Ele pôs todo o seu agrado” (Mt 3,17). É o reconhecimento de Jesus de Nazaré como o Messias.

Na primeira leitura, Isaías nos apresenta  o “Servo” como alguém excepcional: “nele Deus se compraz. Ele será luz das nações, abrirá os olhos aos cegos, tirará os cativos das prisões, livrará do cárcere os que vivem nas trevas” (Isaías 42, 1-6-7). O Novo  Testamento aplicará este texto a Jesus.

As primeiras comunidades cristãs se perguntavam porque Jesus foi batizado. Ele é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo, portanto não necessitava receber de João Batista um batismo de purificação, no entanto, à semelhança de tantos outros, foi a margem do rio Jordão e apresentando-se a João, pede o batismo. João protestou: “eu é que preciso ser batizado por ti, e tu vens a mim”? (Mt 3,14). Jesus, porém, respondeu: “Por enquanto deixa como está, porque nós devemos cumprir toda a justiça”   (Mt 3,15). A resposta de Jesus parece expressar sua plena conformidade com a vontade de Deus e sua solidariedade com a humanidade pecadora que ele veio salvar. Esta salvação, ele levará a cabo como o “Servo” paciente que não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas, conforme o texto da primeira leitura do profeta Isaías. O batismo de Jesus, é  portanto, a inauguração e aceitação de sua missão de Servo sofredor e antecipação do “batismo” de sangue, de  sua morte, batismo este que ele aceita por amor para a remissão de nossos pecados.

A esta aceitação da missão que levaria a cabo pela paixão, morte e ressurreição, o Pai responde colocando toda sua complacência no Filho: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus o meu agrado” (Mt 3,17). O Espírito Santo que Jesus possui em plenitude desde sua concepção veio  posar sobre ele. De Jesus, o Espírito Santo emanará para toda a humanidade.

O batismo de Jesus inaugura o nosso batismo: depois que o padre derrama a água sobre nossa cabeça, o Espírito desce sobre nós do alto do céu e nos faz participantes da vida mesma de Deus, filhos queridos do Pai, irmãos de Jesus e  nos incorpora à Igreja e à sua missão. O batismo nos compromete a conformar nossa vida com a palavra de Deus e a testemunhar Jesus Cristo vivendo uma vida coerente com a fé professada no batismo e celebrada na liturgia.

Agradeçamos, neste dia, a graça do nosso batismo e reconheçamos nossa dignidade de batizados e nosso dever e direito de iluminar com as três virtudes teologais: a fé, a esperança e a caridade recebidas no batismo, o mundo de hoje.

Dom Raymundo Card.  Damasceno Assis
Arcebispo Metropolitano de Aparecida