ECOLOGIA E TEOLOGIA
A teologia oferece preciosos elementos em favor da vida na
terra. O criador da ecologia, da natureza é Deus, e a criação, a terra é para
todos. Na criação Deus nos fala do seu
amor e do seu desígnio de vida e
salvação para a humanidade.
A criação é, pois, o primeiro livro da Palavra de Deus, é o
primeiro sacramento do amor, é a casa de todos, é a gramática e a catequese
mais original. A ordem divina é de “guardar e cultivar” a criação (Gn 2,15). A
ordem, a beleza, a sabedoria, a providência e a finalidade da criação é para
que o homem descubra Deus e conviva com seus irmãos na grande família que é o
mundo. Recebemos de Deus um jardim que foi transformado em deserto. Agora é hora de transformar o deserto em
jardim.
Da natureza aprendemos a “lei natural” que deve ser
respeitada no processo de interação, complementação, comunhão das criaturas. O
salmista convida as criaturas a louvar o Criador: “Sol, lua, estrelas, rios, matas,
peixes, pássaros, frio, calor, noite, dia, montanhas, colinas, bendizei ao
Senhor”. Céus e terra proclamam vossa glória Senhor, rezamos na liturgia
eucarística. São Francisco de Assis compreendeu bem o tesouro da criação quando
chama as criaturas de “irmão sol, irmã lua, irmã água”, etc. A natureza é nossa
mãe e nossa irmã, nossa casa comum. Vamos conservá-la, protegê-la, restaurá-la.
Quão dignificada é a matéria que o Filho de Deus se fez carne, assumiu corpo
humano e habitou no planeta, em Nazaré na Galileia. “Temos o direito e o dever
de nos apaixonar pelas coisas da terra”, dizia T. de Chardin.
Mais admirável ainda é a consagração do pão, que na
Eucaristia se torna corpo de Cristo ressuscitado. Toda a criação está destinada
à participação da glória de Deus e ser novo céu e nova terra. Eucaristia e
ecologia se completam. Jesus, voltando ao Pai com seu corpo humano glorificado,
é a coroação e exaltação de toda a criação. Destruir, depredar, matar a criação
é um “pecado cósmico”.
A natureza, porém, não é mais importante que o homem.
Estaríamos caindo no panteísmo. A criação está
a serviço da vida. Nosso corpo é a síntese da criação. Daí vem a
“ecologia humana” que consiste em respeitar a vida desde a fecundação até
seu fim natural. Seja respeitado o
direito à vida e à morte natural. É uma contradição pedir respeito pelo meio ambiente e não respeitar a
vida humana. É contraditório salvar os ovos da tartaruga, o que é necessário, mas, não respeitar o
embrião humano.
A Teologia ensina que para salvar a ecologia é necessária uma
revisão do nosso estilo de vida consumista e predatório. Urge uma mudança de
mentalidade e transformação do coração. O tipo de desenvolvimento que temos
transformou-se em agente de morte. Os agrotóxicos na verdade são agrovenenos.
A ética da solidariedade e da sustentabilidade não permite
abusar da natureza e prescreve que busquemos novas tecnologias, pensemos nas
futuras gerações, apoiemos todas as iniciativas de recriação da natureza. Como
é comovente ver crianças, catadores de papel, jovens, pessoas simples plantando
árvores, cuidando da água, reciclando lixo. O problema é que os grandes e
poderosos continuam poluindo, depredando e não querem mudar.
O atual modelo de desenvolvimento é destrutivo, gerador de
fome e miséria, de falta de alimentos, antinatalista e fomentador de
envelhecimento do mundo. Com um modelo humano e integral de desenvolvimento, a
população pode crescer, alimentos sobrarão. É possível vencer a desertificação,
o empobrecimento, as guerras. Mudando o lado humano, muda-se o lado da
natureza. Proteger o cosmos é proteger o homem da destruição de si. É hora de
reatar a aliança entre o ser humano e o meio ambiente. Chega de arbitrariedade,
haja mais sabedoria e determinação de mudar.
Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Aparecida