Dom Orlando Brandes

A vontade e os atos voluntários pertencem à área da opção, da decisão, do querer  livre, do discernimento. Santa Teresa de Ávila, dizia para si mesma: “Teresa, tens que te determinar.” Autodeterminação e decisão são atos que marcam a história humana pessoal e social.

Os atletas e artistas conquistam vitórias  às custas da força de vontade.  Os psicólogos estão cansados  de dizer que a cura depende da vontade de seus pacientes. É preciso querer curar-se. É assim que os dependentes químicos abandonam o álcool, que deixam os vícios, inclusive o cigarro. Popularmente dizemos que “querer é poder.”

A cultura moderna não contribui para a educação da vontade. Estamos acostumados a seguir o caminho mais cômodo e fácil. Vivemos uma atmosfera de exaltação do agradável, daquilo que dá prazer, satisfação, sensação. Não se privilegia os limites, os valores, muito menos a disciplina e a renúncia. Nossa vontade  está enfraquecida e ferida. Tão fraca está a vontade que nos tornamos escravos dos instintos, das emoções e sentimentos. Toma-se drágeas  para o divertimento, o sono, a comunicação ou ingerimos álcool para perder a timidez e conseguirmos falar e nos comunicar. Outras vezes, preferimos a mediocridade, a omissão, para não assumirmos responsabilidades. A vontade fraca não tem a suficiente  força para fazer decisões definitivas para o casamento que requer consentimento e opção.

Há um máximo de técnica e um mínimo de ética. As máquinas tomam o lugar do esforço e da vontade como é o caso das calculadoras. A falta de vontade leva as pessoas a desistir de seus exercícios, promessas, compromissos, dietas, sofrendo, assim, grandes prejuízos pessoais e sociais. O que na vida a gente não resolve, a vida devolve. A facilidade tomou o lugar da fidelidade, e a ética do jeito substitui a ética do discernimento, da responsabilidade. Por falta de vontade, muitos de nós levamos a vida com a barriga, deixamos  tudo para amanhã.

Para amadurecer e alcançar metas, a pessoa humana precisa da força de vontade. Parece que hoje nem sabemos o que queremos. Somos “meio queredores”. Pela educação da vontade adquirimos bons hábitos, paz interior e felicidade. Na escola da firmeza permanente Gandhi e tantos outros conquistaram a paciência, a tolerância e a não-violência-ativa. A força de vontade exorciza pensamentos negativos que são destrutivos, supera vícios, propicia a disciplina interior, internaliza valores. Quem semeia ventos, colhe caos. Precisamos fazer não só o que gostamos, mas o que devemos. Para mudar é preciso decidir mudar. A felicidade não está em ter tudo, mas em ser mais, e para ser mais é preciso querer, decidir.

 

Dom Orlando Brandes

Arcebispo de Aparecida SP