SANTUÁRIO NACIONAL DE NOSSA SENHORA APARECIDA

Há mais de dois mil anos, João Batista, filho de Zacarias, percorreu toda a região do rio Jordão, pregando o batismo de conversão para o perdão dos pecados, alertava e conclamava o povo para se preparar para a chegada do Messias, repetindo as palavras do profeta Isaias: “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas.”

João Batista foi o último dos profetas do Antigo Testamento. Ele nasceu e morreu antes de Jesus. Foi decapitado por Herodes ao defender a fidelidade matrimonial, pois João Batista dissera a Herodes que não lhe era lícito possuir a mulher de seu irmão.

Através de João Batista, Deus interveio na história humana e quando João estava no deserto, Deus lhe confiou a missão de preparar o povo para a vinda do Messias, Jesus o filho de Deus.

Todo o povo de Israel deveria saber que a chegada do Messias estava próxima e deveria se preparar para recebê-lo. Ninguém poderia alegar ignorância a respeito da chegada do Messias.

E nós, queridos irmãos (ãs), como estamos nos preparando para o Natal e também para o encontro definitivo com o Senhor, quando Ele nos chamar! Para nós, o perigo está em celebrar o Natal de Jesus como se fosse apenas um acontecimento do passado e reduzir sua celebração a uma mera festa social, ou, então, ficarmos somente aguardando passivamente a segunda vinda gloriosa de Cristo sem nenhum compromisso com a transformação do mundo em que vivemos. O cristão não pode ficar indiferente à política. É um dever e responsabilidade de todo cidadão participar na construção de uma sociedade mais justa, humana. Nenhum cristão pode ficar alheio à luta contra a corrupção que se está travando, hoje em dia, no nosso País. Como afirma o estadista inglês, Edmund Burke: “para que o mal triunfe, basta que os bons cruzem os braços.”

Jesus quer vir, aqui e agora, no presente, ao nosso encontro. Será que ele encontrará entrada no nosso coração? A porta do coração só se abre por dentro e quem tem a chave é cada um de nós.

Jesus Cristo vem ao nosso encontro de diversos modos: na Eucaristia, atualização do seu sacrifício na cruz, sacramento de sua presença entre nós e alimento de vida eterna, no sacramento da reconciliação, onde ele nos dá o seu perdão e nos faz sentir que o amor de Deus é mais forte do que o pecado cometido, na leitura meditada da Palavra de Deus, na Escritura, na pessoa do nosso irmão.

Santo Agostinho dizia que não devemos nos queixar por não ter nascido nos tempos em que o Senhor Jesus já não anda em sua carne mortal pela terra, pois Ele não nos privou da alegria de recebê-lo: “o que fizerdes a um desses meus irmãos mais pequeninos é a mim que o fazei” (Sermão 103,2)

Queridos irmãos (ãs), o apelo de João Batista: “preparai o caminho do Senhor, endireitai suas veredas” é dirigido, hoje, a cada um de nós. Neste advento, somos chamados a retirar os obstáculos que impedem a salvação de Deus chegar até nós. Que valores estamos testemunhando em nossa vida pessoal, na família, no trabalho, na vida social! Procuramos levar uma vida coerente com nossa fé, cultivamos o diálogo e a oração em nosso lar, exercemos nossa profissão, nosso trabalho com competência, honestidade, como uma forma de serviço, de amor ao próximo, estamos cumprindo nossos deveres de cristãos. São questionamentos que devemos nos fazer neste advento e descobrir o que temos que endireitar para nos prepararmos para a celebração do Natal. Para quem se considera perfeito, julga que não tem nada a mudar em sua vida, o advento e o Natal não trarão nada de novo, senão apenas repetição de tradições, sem mudança profunda em sua vida pessoal e social. Preparemo-nos neste Advento para acolher Jesus em nosso coração.

Não nos esqueçamos que no próximo domingo será realizada a Coleta Nacional da Campanha para a Evangelização que tem como finalidade a sustentação do trabalho evangelizador da Igreja no Brasil. A exemplo de Cristo que se fez pobre para nos enriquecer, aprendamos a partilhar com os outros não só os bens espirituais, mas também, os bens materiais.

A fé que não leva à solidariedade com os outros, não é uma verdadeira fé.

Desejo expressar, em meu nome e em nome da Arquidiocese de Aparecida, às famílias, amigos e ao povo de Chapecó, nosso profundo pesar pelas vítimas do desastre aéreo ocorrido na Colômbia e assegurar nossas orações para que Deus conforte os que sofrem pela perda de seus entes queridos e lhes dê forças para recomeçarem nova vida.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Administrador Apostólico de Aparecida, SP