Há um ano, no dia 13 de março de 2013, o Cardeal Jorge Mario Bergoglio, foi eleito Papa, o 266º. Sucessor de Pedro. Um ano é um período muito curto para falar do seu pontificado, mas o Papa Francisco preencheu esse primeiro ano de modo tão intenso, que chega a dar impressão de um tempo muito mais longo.

Não é fácil avaliar o pontificado de um Papa do qual estamos tão próximo. Vou referir-me a três pontos que podem nos ajudar a compreender melhor o pontificado do Papa Francisco: o que ele tem transmitido pelos gestos e sinais;  o que ele tem dito, e o que ele tem realizado. 
 
Comecemos pelos gestos e sinais. O Papa Francisco sempre surpreende. Começou no dia mesmo da eleição. A maneira como saudou e rezou com o povo, reunido na Praça de São Pedro: “e agora, eu gostaria de vos dar a bênção, mas antes peço um favor: antes que o bispo abençoe o povo, eu vos peço de rezar ao Senhor para que ele me abençoe: a oração do povo pedindo a bênção para seu Bispo. Façamos esta oração em silêncio: de todos vós sobre mim”; o uso de um micro-ônibus no lugar do carro oficial, no primeiro dia de Papa; a decisão de residir na Casa de Santa Marta e não no Palácio Apostólico.  Ele tem  também uma maneira especial de se comunicar com as pessoas: escreve cartas, chama pelo telefone, faz visitas. Mereceu destaque a visita feita no primeiro dia de pontificado para pagar pessoalmente sua conta na Casa Internacional, onde esteve hospedado antes do Conclave que o elegeu. Sua viagem à Lampedusa, ao cárcere de menores, ao Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida. Tudo isso mostra um Papa que escolheu um estilo muito pessoal, próprio do pastor, de exercer o seu ministério de sucessor de Pedro. E a marca deste estilo é a simplicidade, a alegria, a proximidade e amor às pessoas, sobretudo, aos mais pobres. Esses seus gestos conferem uma força extraordinária ao que ele diz.

O que o Papa Francisco tem dito. As falas são simples, diretas, vigorosas. À sociedade, ele fala da ética, posicionando-se na defesa dos pobres, migrantes, anciãos e crianças. Recorda a todos que, em primeiro lugar, está a dignidade da pessoa e é a partir dela que se deve pensar e planejar a economia e fazer política. À Igreja, ele fala de sair de si mesma,  de ir às periferias existenciais e físicas. Quer uma Igreja como “hospital de campanha”, onde as pessoas são acolhidas, acompanhadas, curadas de suas feridas e amadas.  Na missa diária de um Papa, pela primeira vez, as homilias são divulgadas, diariamente, e abrem um canal de comunicação cotidiana  entre o Papa e a Igreja.

O que o Papa Francisco tem realizado. O Papa Francisco tem afirmado que os Cardeais o elegeram esperando que faça as reformas esperadas. Começou com a instituição do Grupo dos 8 Cardeais para ajudá-lo na reforma da Cúria e no governo da Igreja. Em seguida, voltou-se para o IOR – Instituto para as Obras de Religião – conhecido como o Banco do Vaticano. Dos quatro textos legislativos publicados, três tratam de questões econômicas e não só na Igreja: prevenção e combate à lavagem de dinheiro;  financiamento do terrorismo e à proliferação de armas de destruição de massa;   aprovação do novo Estatuto da Autoridade de Informação Financeira do Vaticano para prevenir e combater possíveis atividades ilegais no campo financeiro, e, agora, recentemente, a criação do Conselho e de uma Secretaria para supervisionar e coordenar as atividades administrativas-econômicas da Santa Sé e do Estado do Vaticano.

A reforma da Cúria está sendo estudada com cuidado e sem pressa. O Papa Francisco tem falado que a reforma da Cúria por mais importante que seja, é um dos aspectos da reforma de que a Igreja necessita. Fundada por homens e mulheres, santa e pecadora, a Igreja para ser fiel a sua vocação, precisa purificar-se cada dia e buscar sem cessar o rosto de Cristo. A verdadeira reforma, portanto, é espiritual e pastoral.

Deste primeiro ano de Pontificado de Francisco, uma semana foi vivida no Brasil, de 22 a 29 de julho de 2013. Somos testemunhas, nós brasileiros, da força de suas palavras e de seu coração de pastor. Sua simplicidade, seu sorriso, suas palavras diretas, incisivas, sua proximidade às pessoas, conquistaram não só os jovens da Jornada Mundial da Juventude, mas todo o povo brasileiro. O Papa Francisco tem razão quando disse: “os brasileiros “roubaram” meu coração.” A recíproca também, é verdadeira, Papa Francisco: foi o senhor quem primeiro “roubou” o nosso coração.

Dom Raymundo Cardeal Damasceno Assis
Arcebispo de Aparecida, SP