Por decisão do Papa Bento XVI a V Conferência realizou-se em Aparecida, nas dependências do Santuário Nacional. De 13 a 31 de maio de 2007, cerca de 300 Bispos do Continente Sul-Americano participaram da referida Conferência. O grande objetivo foi aprofundar e fazer acontecer  entre nós o Concílio Vaticano II. O desafio fundamental consistiu em despertar e formar discípulos missionários que comuniquem a experiência do encontro vivo com Jesus Cristo, transbordando de gratidão e alegria. Tive a graça de participar da V Conferência como delegado dos Bispos de Santa Catarina, na qualidade de Bispo Diocesano de Joinville.

 

Chama nossa atenção os verbos contidos  no Documento de Aparecida no sentido de despertar na Igreja a necessidade e a urgência de cristãos discípulos missionários. Vejamos alguns: revitalizar, renovar, relançar, estimular, alimentar, repensar, redescobrir, impulsionar nossa pastoral.

 

A V Conferência se propôs a propiciar um encantamento por Jesus e redescobrir a beleza e a alegria de ser cristão, a transformar nossa  Igreja numa “Igreja de atração”. “Conhecer Jesus é nossa alegria, seguir Jesus é uma graça, transmitir Jesus é um tesouro” (DAp n. 18).

 

O Papa Bento XVI no discurso de inauguração da V Conferência abriu portas, indicou rumos, apresentou soluções. O Discurso Inaugural do Papa Bento XVI  é citado 48 vezes no Documento de Aparecida. Ele entregou aos participantes da Conferência 15 chaves de reflexão, a saber: a opção pelos pobres; a promoção humana; as estruturas injustas;  as desigualdades sociais; a globalização; a democracia; a ecologia; a cultura; a política; o machismo; a religiosidade popular; a presença da Igreja na sociedade; a  erosão do catolicismo; o valor do domingo e o enfraquecimento da identidade católica.

 

O Cardeal Jorge Bergoglio, hoje nosso Papa Francisco, foi o presidente da Comissão de Redação do Documento. Coube a ele a maior e mais difícil tarefa. Grande parte do sucesso do Documento de Aparecida deve-se ao Papa Francisco e à Comissão de Redação. Quem lê o Documento de Aparecida logo percebe a unção, a sabedoria, a fé, a alma e o coração do Papa Francisco que nele pulsa. O que ali está escrito nos comove e move, arrebata e encoraja, anima e fortalece. A luz do Espírito Santo  e a doçura de Maria perpassam cada página do Documento.

 

Uma Igreja de cristãos discípulos missionários deve estar a serviço da vida. Por isso, o Documento de Aparecida estende a mão, oferece luz e esperança, coragem e ternura aos habitantes de rua, aos enfermos, encarcerados, migrantes, drogados, desempregados, portadores de deficiência, idosos, menores abandonados, mulheres exploradas, indígenas, afro-descendentes. O Reino de Deus é o reino  da vida. Jesus trouxe-nos vida em plenitude. Há em Aparecida uma “opção pela vida”.

 

A V Conferência e seu Documento Final serviu de rumo e inspiração para a renovação da Igreja  no Brasil a partir das “Cinco Urgências Pastorais”.  Recordemos, pois, nossas urgências pastorais: Igreja em estado permanente de missão; Igreja, casa da iniciação à vida cristã; Igreja lugar de animação bíblica e da pastoral; Igreja, comunidade de comunidades, e Igreja, a serviço da vida. Fomos  agraciados com grandes e famosos Documentos da CNBB, frutos e ganhos da recepção  das orientações da V Conferência  entre nós.

 

Um fato comovente relatado no Documento de Aparecida,  refere-se aos peregrinos e devotos de Nossa Senhora e ao Santuário Nacional. Atestam  os Bispos: “Sentimo-nos acompanhados pela oração do nosso povo católico, representado visivelmente pela companhia do Pastor e dos fiéis da Igreja de Deus em Aparecida e pela multidão de peregrinos de todo o Brasil e de outros países da América ao Santuário, que nos edificaram e evangelizaram”. (DAp n.3)

 

Só nos resta revisitar, reler e atualizar os ensinamentos, as inspirações e as orientações do referido Documento de Aparecida. Agradeço ao Santuário Nacional que irá oferecer, gratuitamente, um pequeno livro  que contém uma síntese popular do Documento.

 

Termino, recordando as sete características do encontro  com Jesus: um encontro vivo e decisivo; um encontro marcante e fundante;  um encontro fascinante; um encontro íntimo; um encontro experiencial; um encontro fecundo; um encontro potencializador ( cf DAp n. 240-245).

 

Ficou famosa a frase do Papa Bento XVI: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou grande ideia, mas pelo encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso,  uma orientação decisiva.” (DAp n. 12).

 

Dom Orlando Brandes

Arcebispo de Aparecida