Oito são as bem-aventuranças proclamadas por Jesus (Mt 5, 3-10). Inspiro-me no discurso do presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, cardeal Van Thuan, proferido em Pádua, por ocasião do Congresso “Civitas”. Utilizo o enunciado do referido autor e faço minhas reflexões pessoais em tomo do tema proposto.

 

  1. “Bem-aventurado o político que tem uma grande e profunda consciência de seu papel”. Política é a arte do bem comum, é uma alta forma de amor social, é um serviço à vida e à convivência fraterna e solidária das pessoas e nações.
  2. “Bem-aventurado o político que tem credibilidade”. É o político consciente, honesto, coerente. Pessoas e povos inteiros mostram descrédito e desinteresse pela política, quando não, pessimismo e omissão. E hora de proclamar a ética política e reconquistar credibilidade da política e dos políticos.
  3. “Bem-aventurado o político que investe no social”. Que não seja interesseiro oportunista, demagogo. Há políticos que se elegem com olhos nas próximas eleições, mas os verdadeiros estadistas olham para as próximas gerações. Política não é troca de favores, nem trampolim para autopromoção. A política não se confunde com as eleições, mas é uma ação que abrange a economia, a cultura, a administração, a legislação.
  4. “Bem-aventurado o político que depois de eleito é coerente, cumpre suas promessas”. Há políticos bons que depois de eleitos se submetem ao jogo da corrupção. Cabe aos eleitores fiscalizar seus candidatos e partidos após as eleições. Cobrar as promessas e projetos. O político coerente está impregnado do espírito de serviço, justiça e solidariedade.
  5. “Bem-aventurado o político comprometido com a verdade e com a fé”. Ghandi dizia; “O que fui na vida política, eu devo à minha espiritualidade”. O compromisso da política com a verdade que liberta é o que mais o povo aprecia e espera. Bons políticos contribuem com a educação e conscientização política. O compromisso com a verdade faz o político brilhar pela competência, eficiência e transparência.
  6. “Bem-aventurado o político que trabalha por uma radical transformação”. A ordem que temos hoje é uma desordem organizada, que faz proliferar a fome e a pobreza. O mundo pode ser diferente. É hora de globalizar a solidariedade e combater o egoísmo. Novo céu e nova terra brotarão de uma nova economia e nova política, que requerem um coração novo. As prioridades políticas são: erradicação da fome, respeito pelos direitos humanos e promoção de um desenvolvimento sustentável.
  7. “Bem-aventurado o político que sabe ouvir”. Ouvir o clamor do povo e ouvir a própria consciência e de modo especial ouvir os pobres. Ouvir Deus na oração paia ter força e coragem nas decisões. O político ouvinte, não procura o povo só quando precisa de votos.
  8. “Bem-aventurado o político que não tem medo”. Não tem medo de ser justo e optar pelo povo. Não tem medo da mídia nem da quebra da imagem pública. Não tem medo da oposição. Talvez, o único medo que o político deve tolerar é o “medo de si mesmo”, para não tomar-se onipotente, nem endeusar seu ego.

 

Dom Orlando Brandes
Arcebispo de Aparecida